Conta-se
que um promotor público, nomeado para uma cidade interiorana do Sul do Brasil,
ali chegou jovem e entusiasta.
Conhecedor
da lei, amante da ordem e do direito, se propôs a realizar o melhor, naquela
localidade.
Um
dos primeiros casos que lhe chegou às mãos foi o de um homem que, em plena
praça, à vista de vários cidadãos, descarregara todas as balas do seu revólver
em sua esposa.
Fora
um crime bárbaro, cruel, presenciado por muitos. O jovem promotor estudou o
caso e, com tranqüilidade, se propôs a fazer a acusação daquele réu.
Para
ele, não havia dúvidas. Tratava-se de um crime bárbaro. O homem, tomado de
ciúmes, pois descobrira que a esposa o traíra, a matara de forma fria,
premeditada.
Havia
muitas testemunhas. O fato era notório. Não havia erro. Aquele homem seria
condenado.
Contudo,
no transcurso do processo, foi se tomando de surpresa o promotor.
O
advogado do réu apresentou sua defesa baseado em que ele não deveria ser
julgado culpado, pois, afinal, fora brutalmente ofendido em sua honra.
A
surpresa foi maior ainda quando o júri chegou ao veredicto de inocente.
Entenderam os jurados daquela cidade que o homem traído mais não fizera do que
lavar a sua honra. E honra se lava com sangue.
Não
se tratava de uma questão de direito, de certo e de errado, mas de como aquela
gente entendia que tudo deveria ser resolvido.
E,
no caso, somente a morte poderia lavar a honra daquele cidadão.
* * *
Em
várias localidades, em nosso país e no mundo, muitos ainda acreditam que a
honra se lava com sangue.
Quando
ouvimos relatos de fatos semelhantes, aqui e ali, tentando justificar atos de
violência, ficamos chocados.
Compete-nos
refletir e pesar nossos valores.
Recordamos
que, certa feita, Mohandas Gandhi, o líder pacifista da Índia, foi esbofeteado
em pleno rosto.
O
golpe fora tão rude que ele caíra. Levantou-se, limpou a poeira da roupa e,
sereno, continuou o seu caminho.
Uma
jornalista londrina teve oportunidade de lhe perguntar:
Senhor,
o senhor não vai revidar?
Por
que deveria? - Perguntou tranqüilo.
Mas,
senhor, ele lhe esbofeteou a face. Feriu a sua honra.
Gandhi
a olhou, profundamente, nos olhos e respondeu:
Minha
jovem, minha honra não está no rosto.
Sim,
sua honra como a de todos nós, não está no rosto. A honra está na alma e essa
ninguém a pode remover, senão nós mesmos.
Manchamos
nossa honra de filhos de Deus quando nos permitimos revidar agressões, descer
ao nível do agressor.
Dilapidamos
nossa honra quando nos permitimos compactuar com a mentira, com a corrupção,
com o crime de qualquer nível.
Pensemos
nisso e nos mantenhamos no bem, no caminho do reto dever, mesmo que as
circunstâncias pareçam contra nós.
Recordemos
a exortação do Divino Pastor: Quem perseverar até o fim, este será salvo!
Perseveremos
no bem, conservando a honra inigualável de filhos de Deus.
Redação do Momento Espírita, com base em fato narrado por
Sandra Della Pola, em palestra proferida no Teatro da Federação Espírita do
Paraná, no dia 11 de julho de 2010.
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