domingo, 30 de março de 2014

DISCIPLINA E LIBERDADE


Ary Brasil Marques

Jesus nos recomendou que buscássemos a perfeição. Nossa meta é, pois, atingir o mais perfeito grau de evolução, tanto como indivíduos, como em família e em grupo social.

Temos o dever de nos esforçar para a nossa melhora, bem como de dar aos nossos filhos a orientação e o exemplo necessários para que os mesmos possam se comportar devidamente em suas experiências de vida.

Sem dúvida são os filhos aquelas plantas tenras que, de acordo com o carinho com que as regamos e amparamos, nos darão uma colheita futura boa ou má. O que plantamos hoje, será o que colheremos amanhã.

Em se tratando de família, a nosso ver a célula mater da nossa sociedade, há duas formas mais comuns de educação dos filhos: uma, a maneira antiga, de uma disciplina férrea e respeito absolutos, onde os pais impunham sempre seus pontos de vista e o filho não podia contestar ou mesmo dialogar com seus pais, tendo que obedecer sempre e onde o temor substituía o amor. Aquele mesmo temor que os homens tinham de Deus, a época que o Criador constituía, aos olhos de todos, um Deus implacável e que impunha o castigo aos seus filhos.

Com a evolução dos costumes, e o brado de liberdade que os jovens lançaram, o sistema autoritário de disciplina férrea foi substituído por outro: vale tudo e pode-se fazer o que se quer.

E assim como o outro, trazendo consigo uma grande gama de sofrimento e de infelicidade para muitas criaturas que, abusando do seu livre arbítrio, se tornam vítimas de si mesmos, pois despreparados, sem carinho e orientação dos pais, os jovens se lançam à libertinagem, julgando estarem exercendo a liberdade.

Não sabem que liberdade é somente daqueles que não se deixam aprisionar pelos vícios. Só são livres os espíritos que já superaram todos os próprios defeitos, alçando voos mais amplos rumo a melhores dias. Os outros, escravos dos instintos ou dos vícios, são apenas prisioneiros totalmente dependentes. E a responsabilidade de tudo isso é de cada um de nós. Somos responsáveis por tudo o que fazemos, bem como pela nossa omissão que lançou nossos filhos no mundo do crime ou do erro.

A melhor maneira de cuidar de nossos filhos é participarmos de suas vidas, acompanharmos passo a passo todos os seus problemas, dialogando com eles, dando exemplos, orientando e ensinando os melhores caminhos. E como o único caminho para a felicidade é o Evangelho de Jesus, magnificamente complementado pelos conhecimentos profundos sobre o problema do ser e do destino que a Doutrina Espírita dá às pessoas, é importante que os pais encaminhem seus filhos para esse caminho, configurando omissão injustificável o abandono dos mesmos à sua própria sorte.

Não é boa norma deixar que o filho escolha o caminho a seguir, pois as crianças são ainda imaturas e sujeitas à influência de exemplos nocivos e propagandas perniciosas. Temos o dever de cuidar com carinho daqueles seres que Deus nos confiou, pois teremos de prestar contas amanhã do nosso mandato.

Todo o pai deseja o melhor para os seus filhos. E o pai que investe não somente na vida material, mas visa o futuro e a vida do ser imortal que cada um de nós é, procura dar ao filho todas as condições para a grande caminhada do espírito, e o encaminhamento aos conhecimentos que o Espiritismo proporciona dá, sem dúvida, melhores condições para isso.

O espírita enfrenta com maior tranquilidade e segurança os problemas da vida, a dor, as dificuldades, as diferenças sociais.

Saibamos, pois, dosar com disciplina e liberdade, a educação de nossos filhos, encontrando o meio termo de equilíbrio capaz de lhes dar melhores condições para uma vida melhor.
  

SBC, 16/09/1998.    

DIREITO À PROPRIEDADE


Ary Brasil Marques

Todos os bens que possuímos nos foram dados por empréstimo. Eles são nossos apenas durante o período de nossa existência terrena. Nosso próprio corpo físico é um bem finito e não durará para sempre.

Diante dessa realidade, teremos direito à propriedade? Teremos direito de acumular bens materiais e de possuirmos riquezas?

Como cada espírito está cursando uma etapa diferente na escola da vida, acredito que aqueles que estão no momento tendo necessidade do aprendizado em relação a posse de bens materiais, recebem esses bens como oportunidade. Pelo bom ou mau uso dos mesmos, o espírito aprende e cresce.

Nas perguntas 880, 881 e 882 do Livro dos Espíritos, encontramos a informação de que o primeiro de todos os direitos naturais do homem é o de viver. Para viver ele pode adquirir bens, guardar para o futuro e defender aquilo que conquistou pelo seu trabalho.

Advertem os espíritos de que a posse de bens materiais é lícita, desde que não vem satisfazer apenas ao egoísmo do homem. Ela deve ser utilizada no sentido do progresso geral e na criação de empregos, visando o benefício de todos. É condenada a aquisição de bens supérfluos que visam apenas a satisfação do orgulho e da vaidade do adquirente.

No regime comunista a propriedade passa a ser do governo. Teoricamente, todos têm os mesmos direitos e podem usufruir dos bens que pertencem à comunidade. Na prática, isso não acontece.

O mundo tem uma pequena minoria que possui bens em excesso, enquanto a maioria não tem o mínimo indispensável à sobrevivência, sendo essa a causa do desequilíbrio social e das guerras.

A igualdade tão apregoada pelo comunismo é uma utopia, e se todos os bens do planeta fossem distribuídos em partes iguais a todos, no dia seguinte essa igualdade já teria desaparecido.

Isso acontece em razão da multiplicidade de estágios diferentes pelos quais passa o espírito, em sua caminhada evolutiva.

O dever de todos, principalmente dos que têm mais, é usar da caridade e do amor para minorar o sofrimento daqueles menos favorecidos.

Em resumo, todos têm o direito às propriedades que adquirirem pelo trabalho honesto. É necessário, porém, não ser egoísta e fazer com que o dinheiro, mola propulsora do progresso, seja usado para trazer mais oportunidades de trabalho aos milhões de pessoas que nada possuem.


SBC, 09/10/2007.

DIGA NÃO AO FANATISMO


Ary Brasil Marques

Um dos maiores empecilhos à união de todos os homens de forma fraterna é sem dúvida o fanatismo.

O fanático é incapaz de ver qualidades no seu semelhante. Não aceita a alteridade. Só vê a sua verdade.

Em todas as atividades dos seres humanos existem as pessoas fanáticas. Essas pessoas, justamente por serem fanáticas, são intolerantes e muitas vezes usam de violência e partem por cima de seus oponentes como se eles fossem inimigos ferozes. Na verdade, os tais inimigos têm apenas o crime de esposarem outras ideias e maneiras diferentes de ver a vida.

No esporte temos visto verdadeiras tragédias provocadas por torcidas uniformizadas fanáticas dentro e fora dos estádios.

O fanatismo leva grupos a se organizarem para atacar e perseguir negros, nordestinos e homossexuais, o que fazem inclusive através de proselitismo na Internet.

A religião, que deveria servir de ponto de união da pessoa com Deus e com os semelhantes, serve ao contrário de instrumento de separação e de violência.

Guerras religiosas aconteceram em todos os tempos, e a maioria delas devido ao fanatismo. Desde as Cruzadas vemos as pessoas matarem em nome de Deus. Nos dias de hoje tivemos muita violência entre católicos e protestantes na Irlanda, e no Oriente Médio, árabes e judeus se hostilizam e se agridem.

O pior dos fanatismos é o fanatismo religioso. Respeitar a opinião daquele que não pensa como nós é dever de todos aqueles que têm no Evangelho de Jesus a orientação para que aprendamos a amar o semelhante.

Não importa a corrente religiosa que a pessoa pertença, nem sua ideologia política, tampouco sua raça ou condição social. Ele pode ser simpatizante de outro clube de futebol, maior rival do nosso. Pode pertencer a correntes de ideias totalmente contrárias ao nosso modo de pensar. Antes de ser nosso adversário, ele é um irmão querido que, a sua maneira, busca igualmente um mundo melhor.

Existem fanáticos em todos os campos. Mesmo na Doutrina Espírita que tem uma verdadeira luz a nos orientar o caminho, existem pessoas que se fanatizam.

Tem gente que atribui tudo a influência dos espíritos, inclusive momentos de irritação e de perda de controle, nunca reconhecendo ser o único causador daquele fato.

Vamos lutar contra o fanatismo. A melhor maneira de seguir o caminho maravilhoso que escolhemos é o equilíbrio, a calma, o bom senso. Nada de exageros. Nada de nos considerar os únicos detentores da verdade, pois sabemos que cada um recebe de nosso Pai Celestial em nossa vida, a parcela de verdade apropriada para nós no momento.


SBC, 27/06/2007.

DIGA NÃO À MALEDICÊNCIA


Ary Brasil Marques

O homem gosta de falar. Muita gente adora falar mal do semelhante. A maledicência é causa de muitos crimes e de dissolução de famílias.

O pior é que uma grande parcela do que se fala a respeito dos outros é baseada simplesmente em boatos, em fofocas, em suposições. Muitas mentiras são jogadas nos ambientes sociais e passam a ter cunho de verdade.

Nosso saudoso Wallace Leal Rodrigues, em seu livro “...E Para o Resto da Vida”, nos conta uma história muito interessante a esse respeito, que transcrevo abaixo:

AS PENAS

Quando pequenas, minha irmã e eu éramos muito sonhadoras. O sonho e a imaginação se conjugam muito bem. E, de quando em vez, inventávamos histórias sobre nossas companheiras. Essas histórias se transformavam em boatos que, em uma cidade pequena, terminavam por provocar dissabores e desagradáveis incidentes entre nossa família e a vizinhança. Na verdade, não fazíamos aquilo por mal, mas, naturalmente, enquanto dávamos rédeas soltas à nossa fantasia, os desagradáveis incidentes se multiplicavam. E, de cada vez que um desses episódios se repetia, corríamos para nossa mãe e dizíamos: - Mamãe, nós prometemos reparar o mal que fizemos.  Minha mãe, com certeza, percebia que castigos e reprimendas não corrigiriam os excessos de nossas mentes. Ela nos ouvia com atenção, assentia com a cabeça e não dizia nada. Lembro-me muito bem de certa manhã, antes do inverno chegar. Ventava muito e nós brincávamos no galpão. Entretanto mamãe, com os cabelos dançando em torno de sua bonita cabeça, estava sentada em um tamborete, ao aberto, bem no meio do quintal. Aquilo nos intrigou um pouco, porém logo nos distraímos. Nossa atenção voltou a ser despertada quando ela nos chamou: - Filhas, por favor, venham até aqui. Aí, perto de vocês há uma almofada e uma tesoura. Tragam-nas. Nós atendemos. Mas fazíamos uma indagação: o que mamãe estava pretendendo fazer? - Agora, disse mamãe quando colocamos os dois objetos junto dela, vocês vão cortar a almofada ao meio. Cada uma cortar de um lado. Obedecemos. A almofada estava cheia de penas e, logo em seguida, levadas pelo vento, elas enchiam o quintal num espetáculo tão lindo como uma tempestade de neve. Eu e minha irmã pulávamos e rodopiávamos encantadas com o espetáculo imprevisto. Todavia, mamãe tornou a nos chamar. Junto dela estava a sua cesta de costura, que nem tínhamos visto. Foi lá de dentro que ela tirou uma capa de almofada nova, bordada e vazia. - Olhem, disse ela, agora vocês vão encher de novo esta almofada. Era simplesmente incrível o que mamãe estava propondo. E nós redarguimos: - Mas, isso é impossível, as penas voaram por toda parte. - Não é que foi mesmo! Disse mamãe dando a impressão de estar admirada, enquanto olhava as penas que dançavam no vento. E fez, em seguida, um comentário que minha irmã e eu não pudemos esquecer durante toda a vida: - Essas penas parecem os boatos que certas pessoas propagam: uma vez espalhados, não há meios de fazê-los voltar ao ponto de partida. Eu, pessoalmente, quando me sinto inclinada a repetir comentários e rumores ouvidos, lembro-me sempre daquelas penas soltas no vento e que, de nenhuma forma poderíamos tornar a recolher para uma nova almofada.
              
Não olvides que a primeira escola da criança brilha no lar. Abre teu coração à influência de Cristo - o divino escultor de nossa felicidade,- a fim de que o menino encontre contigo os recursos básicos para o serviço que o espera na edificação do Reino de Deus. 

Emmanuel

(Do livro E PARA O RESTO DA VIDA...de Wallace Leal V. Rodrigues)

Vamos todos fazer uma campanha para eliminar de nosso meio a maledicência. Vamos nos propor, a partir de hoje, a manter nossa boca fechada em relação aos eventuais deslizes de nossos companheiros de jornada.

Com essa atitude, estaremos colaborando para que o nosso mundo fique melhor. Sintonizando nosso coração no bem e no amor, deixaremos de ver apenas as falhas de nossos irmãos, e nossos olhos se abrirão para as coisas boas que os mesmos fazem.


SBC, 24/09/2007.  

DIA MARAVILHOSO


Ary Brasil Marques

Está começando um novo dia. Um dia de luz, de amor, de alegrias.

Vamos elevar nosso agradecimento a Deus, nosso Pai de Amor e de Bondade.

Vamos agradecer a Ele pelo dom da vida, por tudo o que somos e por tudo o que temos.

Vamos nos lembrar agora que somos filhos diletos do Criador, somos centelhas divinas, somos luz.

Olhemos agora para o nosso planeta com muito carinho e muita gratidão. A Terra é o nosso lar, a nossa escola. É na Terra que aprendemos a caminhar firmes rumo ao nosso destino final, a perfeição.

Vamos vibrar amor por todos os habitantes do planeta. Eles todos são irmãos queridos, caminhando conosco, aprendendo conosco e nos ajudando a aprender e a crescer.

Agora vamos conquistar um novo amigo para o nosso coração. Busquemos em nossa memória alguém de quem não gostamos, alguém que nos é antipático, alguém que nos magoou ou que procura nos prejudicar. Pode ser um parente que não tem afinidade conosco, ou um chefe que nos persegue, ou ainda um colega de serviço que tenta puxar o nosso tapete.

Coloquemos essa pessoa em nossa tela mental. Vamos iluminar essa criatura. Vamos lançar sobre ela agora vibrações de intenso amor e de carinho. Vamos envolvê-la com muita paz, com o desejo de que ela sinta que é amada por nós. Peçamos a Deus que lhe dê muita saúde, muita alegria, muito sucesso, que ela seja imensamente feliz em sua trajetória terrena. Caso em alguma ocasião tenhamos ofendido essa pessoa, aproveitemos o momento para lhe pedir perdão e para lhe dizer que a amamos como irmão ou irmã querida.

A partir de agora fizemos uma linda transferência em nossa vida. Tiramos alguém da lista de pessoas de quem não gostamos, e colocamos um novo nome em nossa lista de amigos.

Agora vamos agradecer novamente a Deus. Orar a Ele com profunda gratidão, pelo fato de nos proporcionar a oportunidade maravilhosa de possuirmos em nossa vida apenas pessoas amigas. Não temos mais inimigos, graças a Deus.

Assim começamos de maneira positiva esse novo dia que nasce radioso. Certamente ele será um dia produtivo, de paz, de amor e de construção por parte de todos nós de um mundo novo. É o princípio do nascimento da nova civilização do futuro, a civilização da paz e do amor.


SBC, 18/09/2007.  

DIA DOS PAIS


Ary Brasil Marques

O dia dos pais é comemorado esta semana com muita alegria pelos filhos. Nesse dia, são dados presentes e também, as pessoas abrem o coração para falar as seus pais aquilo que não tiveram oportunidade de dizer na hora certa, principalmente quando os pais já se encontram no plano espiritual.

Para falar sobre o dia dos pais, vou colocar em minha frente na minha tela mental, a figura de meu querido e saudoso pai, Edmundo Marques.

Meu pai, eu preciso lhe dizer alto e em bom som: Eu te amo.

Essa declaração ficou muitas vezes presa dentro de meu peito, e não pude fazê-la antes de sua partida para o plano espiritual. Não dá para voltar no tempo, mas dá para lhe mandar agora todo o meu sentimento, todo o meu amor, toda a minha gratidão por tudo o que recebi de meu pai, ao longo da vida.

Pouca gente levou tão a sério e com todo o carinho o seu papel de pai. Pai é presença, é convívio, é exemplo, é camaradagem, é companheirismo. E meu pai foi tudo isso para mim e para os meus irmãos.

No dia dos pais, nos lembramos de nosso Pai Celestial. Ele ama a todos os seus filhos, incondicionalmente. Ele nos permitiu também, um dia, de sermos guindados ao extraordinário papel de pai. E no papel de pais pudemos entender melhor o nosso pai, suas dificuldades, seus problemas. E ele soube cumprir com esse papel de maneira esplendorosa.

Para dizer todo o sentimento e amor que nos possui neste instante, vou transcrever aqui uma poesia do padre Fábio de Melo, que traz em seu final a síntese do que sentimos ao homenagear nossos pais.

Deus é Pai
Quando o sol ainda não havia cessado o brilho,
Quando a tarde engolia aos poucos
As cores do dia e despejava sobre a terra
Os primeiros retalhos de sombra,
Eu vi que Deus veio assentar-se
Perto do fogão de lenha da minha casa.
Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça
E buscou um copo de água no pote de barro,
Que ficava num lugar de sombra constante.
Ele tinha feições de homem feliz, realizado
Parecia imerso na alegria que é própria
De quem cumpriu a sina do dia e que agora
Recolhe a alegria cotidiana que lhe cabe.
Eu o olhava e pensava:
Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom viver essa hora da vida
Em que eu tenho o direito de ter um Deus só pra mim,
Cair nos seus braços, bagunçar lhe os cabelos,
Puxar a caneta do seu bolso
E pedir que ele desenhasse um relógio
Bem bonito no meu braço.
Mas aquele homem não era Deus.
Aquele homem era meu pai
E foi assim que eu descobri
Que meu pai com o seu jeito finito de ser Deus
Revelava-me Deus com seu jeito infinito de ser
Homem.
(Padre Fabio de Melo, SCJ)

Fica aqui a homenagem de coração ao meu pai, ao pai de todos vocês e a Deus, o pai de todos nós.


SBC, 07/08/2007.

DEUS É AMOR


Ary Brasil Marques

A resposta obtida por Kardec à primeira pergunta do Livro dos Espíritos nos permite ter uma ideia exata de Deus, a causa primária de todas as coisas.

Muitas religiões colocam Deus como uma entidade autoritária, severa, que castiga aos seus filhos impiedosamente, colocando-os em um inferno eterno e repleto de sofrimentos.

Os fiéis dessas religiões são orientados para temer a Deus, e os que não são tementes a Ele são vistos como pessoas que não cumprem com as suas obrigações religiosas.

Os espíritas não temem a Deus, e sim o amam. A visão de Deus que o Espiritismo nos dá é a de um Pai amantíssimo, soberanamente bom e justo, perfeito em todos os seus atributos.

Para nós, Deus não castiga aos seus filhos. Ele nos criou a todos, simples e ignorantes, com um destino irrevogável, o de alcançarmos pelas nossas próprias forças, um dia, através da evolução, para o que teremos tantas oportunidades quantas forem necessárias nas múltiplas moradas de nosso Pai existentes no Universo.

Ao invés de castigo, Deus ensina aos seus filhos por meio de uma lei automática chamada Lei de Ação e de Reação. Essa lei não tem a finalidade de punir, mas ela leva o ser humano a aprender e progredir quando o mesmo sofre as consequências de seus atos.

Deus é amor. Amor incondicional. E o sentimento que devemos ter para com Ele é de amor e de respeito. Não há o que temer. Ele nos ama intensamente, e espera, sem pressa, que cada um de seus filhos encontre o caminho luminoso da paz, da alegria e da perfeição.


SBC, 11/10/2007.

DEIXEMOS DE COMENTAR O MAL


Ary Brasil Marques

O homem tem a tendência de comentar o que acontece em sua vida, dando preferência aos comentários negativos.

Mais de 80% dos noticiários da televisão enfocam crimes, desastres, violência e corrupção. As coisas boas que nos ocorrem são deixadas de lado, ou são registradas em notas breves e rápidas.

André Luiz nos ensina que o mal não merece ser comentado em tempo algum.

A razão desse ensinamento é que, ao comentarmos o mal, damos força ao mesmo. Cada vez que abordamos em nossas conversas um ato violento, a crueldade de alguém, ou um acidente espetacular, estamos valorizando aquilo que não merece ser valorizado.

Acho que deveríamos fazer o contrário. Falemos no bem, falemos no amor, falemos na beleza da vida.

Nossa televisão está cada vez mais criando informativos e noticiários que dão, o tempo integral, um valor muito grande aos acontecimentos negativos que ocorrem em todos os quadrantes do mundo.

A julgar pelas notícias que nos são dadas, nosso planeta está um caos. Eles semeiam pessimismo a todos os espectadores e utilizam locutores de expressão para enfatizar e dramatizar tudo.

Será que não há nada de bom acontecendo no mundo? Será que o esforço dos cientistas para buscar a cura das doenças e melhores condições de vida para a população não existe mais? E o trabalho voluntário de abnegados que lutam o dia todo levando consolo e apoio aos necessitados, desapareceu?

Vamos valorizar o que temos de bom. Vamos vibrar com a beleza do céu, do mar, das montanhas, dos lagos e das florestas. Vamos parar de valorizar o mal.

Sugiro uma greve de todo o povo. Desliguemos a televisão quando elas abordarem desgraças. Calemos a nossa boca, não vamos passar adiante o que for negativo.

Tenho a certeza de que os donos das emissoras vão buscar alternativas para que voltemos a sintonizar as mesmas. Não divulgando o mal, ele terá a tendência de diminuir. O que assistimos nos dias de hoje na televisão é justamente o que queremos ver. Eles nos dão o que queremos. Quando nosso desejo passar a ser apenas de coisas boas e belas, por certo eles nos darão isso.

E o bem resplandecerá. Nascerá na mente das pessoas que estão sintonizadas no bem. Será o prenúncio da nova civilização do terceiro milênio, a civilização que transformará a Terra em planeta de regeneração.


SBC, 04/10/2007.  

DAR E RECEBER


Ary Brasil Marques

As igrejas de todas as religiões estão sempre repletas de fieis, o mesmo acontecendo com os centros espíritas. A maioria dessas pessoas não tem a noção exata do que estão fazendo, buscando apenas alguma vantagem, a cura para seus males físicos ou espirituais e a felicidade. Pouca gente vai a esses templos para se doar, para servir e para ajudar o próximo.

Jesus nos disse que nem todos aqueles que dizem Senhor! Senhor! entrarão no Reino dos Céus. Na verdade, precisamos aprender que é dando que se recebe, e quem busca apenas receber em qualquer templo religioso não pode esperar o ingresso nas regiões superiores pois já foram atendidos em suas solicitações.

As religiões são apenas instrumentos que utilizamos em nossa caminhada na busca de Deus. Todas elas são caminhos diferentes, apropriadas ao grau de evolução de cada um. Assim como os rios, todos diferentes um do outro, que caminham para o oceano, as religiões se dirigem para Deus.

Há aquelas que ainda estão seguindo fielmente o que aprenderam com Moisés. O grande profeta trouxe para a humanidade o decálogo e uma série de leis importantes para a conduta humana. Ele baseou seus ensinamentos na proibição. O homem não pode matar, não pode roubar, não pode desejar a mulher do próximo nem nada que não lhe pertença, não pode cometer adultério, etc., etc.

Jesus usou de outra estratégia. Não proibiu nada. Falou aos homens de modo positivo, preconizando o amor. Em uma única frase, reuniu todos os ensinamentos de Moisés e de todos os profetas. Essa frase, o segredo da felicidade e da conquista futura da plenitude, diz apenas que para se alcançar o reino dos céus basta amar a Deus sobre todas as coisas e amar o nosso próximo como a nós mesmos.

Aquele que ama a Deus não rouba, não mata, não comete adultério, não polui o meio ambiente, não é corrupto, respeita a vida e ao seu semelhante, pois sabe que para amar a Deus tem necessidade de amar as criaturas de Deus.

Não basta frequentar uma casa religiosa. Essa frequência muitas vezes é para o bem de quem a faz. É preciso aprender a amar, a dividir os conhecimentos com os nossos irmãos, a dar de si.

É por essa razão que Jesus nos advertiu que não é suficiente para entrar no Reino dos Céus a nossa presença diária e constante em qualquer templo religioso. Para receber, temos que dar.


SBC, 11/11/2007.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O SUICÍDIO


Ary Brasil Marques

O suicídio é uma prática condenada pela maioria das pessoas e pelos religiosos em geral. Costuma-se dizer que quem pratica o suicídio está fazendo o pior pecado por ir contra Deus, sendo pois uma ação inadmissível e má.

O Livro dos Espíritos nos dá uma noção exata do que é o suicídio, mostrando-nos a insensatez desse ato, e explica que todos responderão pelos atos praticados.

A leitura de alguns livros espíritas, tais como Memórias de um suicida e Martírio de um Suicida, nos trazem a narração de muito sofrimento por parte daqueles que buscam essa forma de fuga da vida.

Só a descrição do Vale dos Suicidas, local de sofrimento onde se reúnem irmãos nossos que passaram por essa terrível experiência, nos enche de pavor.

Analisando o ocorrido com queridos amigos nossos, atingidos pela tristeza da perda de entes queridos que desertaram da vida terrena por vontade própria, vamos tecer algumas considerações.

Em primeiro lugar, Deus é amor infinito. Ele nos criou a todos simples e ignorantes, mas todos destinados a alcançar um dia a perfeição. O espírito evolui através de um número infinito de encarnações, em cada uma delas aprendendo um pouco mais e tendo como mestres os próprios erros e fracassos. O espírito avança, cai e levanta muitas vezes, até que um dia consiga alcançar essa perfeição.

O maior espírito que pisou na face da Terra, nosso Mestre Jesus, ao ser crucificado, insultado, vilipendiado, com lanças sobre o peito e uma coroa de espinhos na cabeça, orou ao Pai Celestial dizendo: “Pai, perdoai-os, porque eles não sabem o que fazem.”

Isso demonstra que todos aqueles que praticam a iniquidade, o mal, o erro, o suicídio, são irmãos nossos que não sabem o que fazem. A própria lei humana, ao julgar aqueles que vão prestar contas de seus atos, leva em consideração o conhecimento, e pune de maneira mais branda os ignorantes, os que não sabem o que fazem, os que praticam o erro mais por uma forma culposa do que dolosa.

Lembro-me dos jogos de criança, do ludo. Naquele joguinho infantil, avançamos com um peão por uma pista quadriculada, de acordo com o número que aparece quando jogamos o dado. Conforme o número que tiramos, avançamos igual número de casas. Às vezes, dá um número que nos leva a uma casa marcada com o castigo de voltarmos atrás para o início do tabuleiro. Na vida acontece a mesma coisa. Quando cometemos um erro, e o suicídio é o erro maior, temos que voltar para o início da jornada, começar de novo, pois Deus é infinitamente bom e ama igualmente a todos os seus filhos. Ele certamente dará àqueles que faliram a oportunidade de recomeçar, tantas vezes quantas forem necessárias.

Assim, aquelas pessoas queridas que cometeram atos tão deploráveis, não ficarão abandonadas, nem irão para um inferno eterno. Cabe a todos os que amam tais criaturas, orar com fervor, com confiança, ao Deus de amor e de bondade, e Ele vai socorrer esses nossos irmãos, vai lhes dar esperanças, vai lhes proporcionar novas oportunidades.

É claro que eles estão sofrendo. Mas o sofrimento é o caminho da redenção, da recuperação, e esses nossos queridos irmãos não estão abandonados.

Jesus mesmo nos disse que são os mais faltosos, os mais necessitados, os mais transviados, que terão maior atenção por parte do Senhor, pois são eles as ovelhas transviadas muito importantes para que venham a ser trazidos de volta para o seu redil.


SBC, 09/09/06.        

CONSIDERAÇÕES SOBRE A VELHICE


Ary Brasil Marques

Estou comemorando 79 anos de idade. Faço parte de uma enorme classe de aposentados. Para muitos, aposentado é aquele que não trabalha, que vive em um “dulce far niente”.

Eu não penso assim. Acho que há muito trabalho que merece nossa atenção diária. Exercitar a mente, ler, escrever, fazer palestras, palavras cruzadas, navegar na Internet, dar carinho a quem precisa, participar como voluntário em alguma entidade beneficente, são apenas algumas atividades que podem encher de satisfação o dia de uma pessoa idosa.

Costuma-se usar o adjetivo de velho para identificar os idosos. Velho é pejorativo. Velho é trapo. Eu não me considero velho. Acho que a melhor maneira para identificar a pessoa que tem mais idade é, como diz o Juca Chaves, seminovo. Somos seminovos, não somos velhos. E assim como os carros antigos, os seminovos costumam servir aos seus donos tão bem como o fazem os modernos veículos vendidos hoje. E mais, aguentam batidas mais violentas do que as frágeis latarias dos carros novos.

Acredito que todas as pessoas vão um dia chegar à idade mais avançada, se conseguirem vencer as doenças, os acidentes e as adversidades do caminho. O ser humano começa a envelhecer na infância, e não há meio de fugir dessa verdade. Até por inteligência, para evitar um sofrimento que só virá para aqueles que não aceitam aquilo que não podem mudar, acho que todos deveriam se preparar para todas as situações da vida e para todas as idades. Devemos brincar na infância, nos divertir na adolescência, ter uma mocidade plena de atividades sadias, ser cidadãos úteis à sociedade na idade adulta e curtir a terceira e a quarta idade com serenidade e sabedoria.

O segredo é saber utilizar os recursos recebidos de Deus em todas as fases de nossa existência, agradecer por eles e os utilizar dentro do amor e do desejo de ser útil.

Quem não pode correr, anda. Quem não pode andar sem apoio, que arrume uma bengala. Quem não puder andar nem com ela, use uma cadeira de rodas.

O importante é a conscientização de que devemos viver intensamente com os recursos que nos sobrarem na grande caminhada da vida terrena rumo à evolução.

Somos todos espíritos imortais, e o nosso corpo físico é apenas um instrumento temporário, sujeito ao desgaste do tempo, que o usaremos enquanto estivermos aqui.

Recém-nascidos, novos ou seminovos, vivamos a vida com muita gratidão ao nosso Pai Celestial pela maravilhosa oportunidade que nos deu, na presente encarnação.


SBC, 06/09/2007.

CONSELHOS AO EXPOSITOR


Ary Brasil Marques

1 – LER BASTANTE
No preparo da palestra, o expositor deve ler bastante sobre o tema escolhido e também sobre outros assuntos. Deve pesquisar usando todos os recursos disponíveis, tais como: jornais, revistas, livros, dicionário, Internet, etc.

2 – SINTONIA
O expositor deve se manter durante o dia todo de sua palestra em sintonia com o Plano Espiritual superior, evitando conversas e assuntos desagradáveis, discussões, atritos e programas de rádio e televisão que focalizam coisas negativas.

3 – HISTÓRIAS
O expositor deve memorizar um bom número de histórias e historietas, as quais serão usadas pelo mesmo no momento que julgar oportuno de sua palestra.

4 – PRECE INICIAL
Antes de iniciar sua palestra, deve o expositor fazer uma prece, colocando à disposição do Plano Espiritual todos os seus recursos e conhecimentos, e solicitando auxílio e inspiração para a tarefa que está prestes a iniciar.

5 – VAIDADE
Por melhor expositor que seja, deve evitar sempre a vaidade, não se deixando influenciar pelos elogios dos seus ouvintes. Lembrar que tudo o que fazemos e o que falamos não é mérito nosso, mas acréscimo de bondade divina.

6 – INÍCIO
Antes de iniciar a exposição, respirar profundamente e fixar toda a assistência, vibrando amor intenso para cada um dos presentes.

7 – ASSUNTO
O expositor deve sempre semear esperanças e otimismo aos ouvintes.

8 – AGRADECER
Ao término da exposição, orar agradecendo a Deus e aos espíritos amigos que lhe ajudaram em sua missão.

9 – RESPONSABILIDADE
O expositor é responsável pelos conceitos que emite, e deve ter cuidado para não fazer afirmações contrárias à Doutrina ou que ataquem pessoalmente pessoas ou instituições.

10 – COBRANÇA
Lembrar que nossos atos e atitudes devem guardar coerência com tudo aquilo que falamos. Teremos de prestar contas por tudo o que fizermos, e também por tudo o que falamos ou deixamos de falar.


SBC, 22/09/2006.

CONHECEREIS A VERDADE E ELA VOS LIBERTARÁ


Ary Brasil Marques

Nos dias de hoje, dá-se grande importância ao poder da vontade. As pessoas são levadas a crer que basta querer para poder.

Tal assertiva vale até certo ponto. Em nosso entender, não basta querer, é preciso saber. Vejamos o seguinte exemplo: Um avião de passageiros, por uma circunstância qualquer, tem o piloto e o copiloto inconscientes em razão de efeito de uma bebida poluída e um dos passageiros se vê forçado a ir para a cabine e levar a aeronave ao destino.

O passageiro não conhece nada de avião. O painel, cheio de luzes e de botões, é para ele um verdadeiro enigma. O que fazer? Caso acione um botão errado poderá pôr em risco a segurança de todos. Só a pessoa habilitada, conhecedora do assunto, tem possibilidade de assumir a responsabilidade de agir em ocasião assim. Por mais que queira, o que vale é o conhecimento.

Outro exemplo: Uma pessoa se vê, de repente, em país estranho. Não conhece o idioma, nem os costumes, nada. Recebe um livro com explicações detalhadas de como deve agir naquele lugar. Só que o livro está em língua desconhecida para ele. De que lhe adianta, no caso, o querer. Ele não sabe, e por essa razão, não pode.

Allan Kardec, o insigne codificador do Espiritismo, recomendou a todos nós o seguinte:- Espíritas, amai-vos; Espíritas, instruí-vos.

Isso quer dizer que é importantíssimo se cultivar o amor, e também importantíssimo se buscar o conhecimento. Conhecereis a verdade, e ela vos libertará.

A chave de nossa libertação é, pois, o conhecimento. Até para amarmos o nosso semelhante precisamos saber porque devemos fazer isso e como vamos amar. Muita gente confunde amor com egoísmo possessivo e muitos pais, sob o pretexto de amar os seus filhos, os sufocam e impedem o seu crescimento, tentando preservá-los dos sofrimentos decorrentes do uso do livre-arbítrio nas experiências da vida.

Em nossa caminhada evolutiva, temos que buscar incessantemente o saber. Ler, estudar, participar de todos os processos de evolução do planeta, aprender. Os livros que permanecem fechados nas estantes são fontes de energia paradas e valem como água estagnada, sem utilidade.

A mediunidade é um dos melhores instrumentos de trabalho de que dispõem os homens. Por ela podemos manter um salutar intercâmbio entre o mundo material e o mundo espiritual, tanto para auxiliar aqueles que estão nas trevas, como também e principalmente receber instruções e conhecimentos dos Espíritos Superiores. Mas a mediunidade, para ser bem conduzida e confiável, tem que vir acompanhada de conhecimento. O médium que estuda, que conhece, que se aperfeiçoa, é muitas vezes mais confiável do que o médium ignorante.

É importante, pois, que os Centros Espíritas promovam cursos, palestras, estudos em grupo, troca de ideias e de conhecimentos. Assim, estaremos contribuindo para o desenvolvimento das pessoas, na busca incessante da verdade. E o conhecimento da verdade nos trará recursos para nossa evolução. Só esse conhecimento nos libertará das trevas da ignorância e nos permitirá os meios de crescer e evoluir.


SBC, 31/05/2007.

COMUNICAÇÕES ESPÍRITAS


Ary Brasil Marques

Consultando a Grande Enciclopédia Larousse Cultural, verificamos que o termo comunicação é derivado do latim, communicatio. Significa interação, troca de mensagens; ação de se comunicar com alguém, de estar em contato com outrem, geralmente pela linguagem; troca verbal entre um locutor e um interlocutor de quem o primeiro solicita uma resposta: A linguagem, o telefone são meios de comunicação. (Segundo Warren Weaver, “a comunicação inclui todos os procedimentos por meio dos quais uma mente pode afetar outra mente. Isto, obviamente, envolve não somente a linguagem escrita e oral, como também música, artes pictóricas, teatro, balé e, na verdade, todo comportamento humano.”

A comunicação entre os homens tem mudado radicalmente em razão da evolução, do progresso, da tecnologia. Enquanto os primitivos habitantes de nosso planeta se comunicavam guturalmente, com gestos e monossílabos, hoje o homem usa dos mais diversos meios de comunicação, tais como a televisão e o computador. A Internet em nossos dias é uma comunicação geral e global entre todos os povos, e sua influência é tamanha que já tem sido possível, com o uso dos recursos do ciberespaço, salvar vidas humanas que estão sendo atacadas por males estranhos e que, pelo intercâmbio de ideias, acabaram por encontrar a causa e consequentemente alcançar a cura. (É o caso de Zhu Ling, moça chinesa de 21 anos que se encontrava em coma acometida de doença estranha, salva pela ajuda de médicos do mundo inteiro acessados via Internet, no período abril/maio de 1996).

A comunicação dos espíritos também tem acompanhado o desenvolvimento do homem, e vem se aperfeiçoando através do tempo, à medida que vamos nos desenvolvendo e nos tornando aptos a usar da ciência e da tecnologia que, no plano espiritual, já existem há muito tempo.

No princípio os espíritos utilizaram as pranchetas, as mesas girantes, a tiptologia. Depois chegou a vez das comunicações mais aprimoradas, utilizando-se como intermediário uma pessoa encarnada que tenha mediunidade, servindo essa pessoa como um telefone, ou seja, apenas e tão somente a ponte de ligação entre o mundo espiritual e o mundo material.

No Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item VI, Kardec, entre outras coisas, afirma: “As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As comunicações ocultas ocorrem por influência, boa ou má, que eles exercem sobre nós com o nosso desconhecimento; cabe ao nosso julgamento discernir as boas e más inspirações. As comunicações ostensivas ocorrem por meio da escrita, da palavra, ou outras manifestações materiais, e mais frequentemente por intervenção dos médiuns que lhes servem de instrumento.”

No final do capítulo, há uma Nota de Allan Kardec, que diz o seguinte:
“Destas explicações decorre que os Espíritos podem produzir todos os efeitos que nós outros homens produzimos, mas por meios apropriados à sua organização. Algumas forças, que lhe são próprias, substituem os músculos de que precisamos para atuar, da mesma maneira que, para o mudo, o gesto substitui a palavra que lhe falta”.

No Livro dos Médiuns, Capítulo IV, item XXIII, Kardec pergunta:
“Concebemos que seja assim, quando o Espírito bate num corpo duro; mas como pode fazer que se ouçam ruídos, ou sons articulados na massa instável do ar”?
 Respondem os Espíritos:
“Pois que é possível atuar sobre a matéria, tanto pode ele atuar sobre uma mesa, como sobre o ar. Quanto aos sons articulados, pode imitá-los, como o pode fazer com quaisquer outros ruídos.”

Todos nós sabemos que o pensamento é força, capaz até de ser fotografado, e a telepatia é usada com sucesso por algumas pessoas. No plano espiritual o pensamento é a linguagem comum entre os Espíritos.

André Luiz nos mostra que, em Nosso Lar, os Espíritos utilizam a ideoplastia para mentalizar e criar suas moradas lá. É a força do pensamento que molda, que idealiza, que realiza.

Assim, cremos que os Espíritos têm todas as condições de usarem o fluido universal para se comunicarem conosco, com ou sem a presença de intermediários humanos. Assim como o homem encarnado progrediu e alcançou níveis tecnológicos maravilhosos, permitindo o uso da eletrônica e dos modernos aparelhos na solução de seus problemas, na cura, nas modernas cirurgias, etc., os Espíritos, com muito mais razão por estarem no plano de vida espiritual, mais amplo, têm condições que ainda não conhecemos de fazer esse intercâmbio com o mundo material.

As experiências de cientistas do mundo inteiro que conseguiram com a trans comunicação um contato com o mundo espiritual, são, pois, merecedores de nosso respeito e não é justo que combatamos esse tipo de comunicação por ficarmos parados no tempo, querendo preservar a todo o custo a codificação, e sendo mais realistas do que o rei, pois o próprio Allan Kardec admitiu ser o Espiritismo uma doutrina dinâmica, que iria se atualizando com o tempo à medida que o progresso da ciência fosse avançando.

Assim como os homens nos dias de hoje não podem deixar de acompanhar o vertiginoso progresso e a comunicação instantânea entre todos os povos pela Internet, sob pena de ficar à margem e perder o bonde da história, também os Espíritos agora podem utilizar os imensos recursos de que são possuidores e que não utilizavam antes por nos faltar estrutura para acompanhá-los.

Cremos que isso tudo é apenas o começo. Dia virá que não haverá necessidade de aparelho algum para que os Espíritos, encarnados ou desencarnados, se comuniquem. Todos se comunicarão de um modo direto, pelo pensamento, pela telepatia. Enquanto isso não se dá, vamos utilizar ao máximo os recursos que nos são confiados, humanos e tecnológicos.


27/11/96  

COMPROMISSO COM CRISTO JESUS E ATUALIDADE


Meus filhos, que o Senhor nos abençoe.

Estes são dias semelhantes àqueles, quando as sombras se adensaram em tentativa frustrada de obscurecer a luz.

Jesus, a luz do mundo, espalhou claridade da esperança, não obstante a treva teimosa tentasse impedir-lhe a projeção.

Hoje não são diferentes as circunstâncias. Como outrora, há predomínio da força sobre a razão; da impiedade sobre a justiça; da anarquia sobre a ordem; da violência sobre a paz; do vandalismo sobre a harmonia; da agressividade sobre a pacificação.

Os poderosos da ilusão cavalgam o ginete da loucura e espalham o fogo voraz do ódio, olvidando-se de que as labaredas crepitantes devorarão igualmente o seu trono de quimera.

A astúcia sobrenada, colocando-se acima da inteligência e do discernimento, erguendo louros à volúpia sem dar-se conta de que o fogo-fátuo cede lugar à realidade objetiva.

 As criaturas humanas, desnorteadas, armam-se umas contra as outras, embora a voz do Mestre conclame que se devem amar umas às outras.

Não seja, portanto, de surpreender que haja primazia dos valores utópicos em desrespeito às realidades demoradas e que o gozo, na forma enganosa do prazer, açule a imaginação para o desfrutar até a taça amarga do despertamento.

Aumenta a miséria social, avoluma-se a mole humana sem teto, o analfabetismo campeia nos países sem rumo e a morte prematura ronda os berços da oportunidade ceifando vidas. As enfermidades cruéis mutilam o corpo, a mente e a alma e a fome tornou-se o fantasma sempre presente diante de multidões volumosas que perecem à míngua de pão.

Mas, nos países da opulência o alcoolismo dizima legiões de vítimas ao comando do “deliriuns-tremens”, as drogas aditivas criam dependência ultriz cavalgando a juventude sem norte; os vícios profundos das gerações transatas ressurgem na velhice, desesperada pelo fim do périplo carnal e a ambição galopa engendrando as “máfias” que desgovernam Nações e criaturas e espalhando-se com os tentáculos cruéis da sua dominação por toda parte.

E uma paisagem triste e erma.

Por outro lado, a cultura sem Deus atinge expressões surpreendentes na técnica, na ciência e nas realizações das doutrinas avançadas, tornando a Terra um paradoxo.

Não obstante o aspecto calamitoso, o progresso vem trabalhando o granito das consciências, esculpindo as asas do anjo de libertação das vidas. Há muito horror! Porém, milhares de cientistas abnegados estão refugiados nos laboratórios nas pesquisas, para debelarem as enfermidades destrutivas, desenganadas, temerárias. Audaciosos nautas entregam as vidas procurando pouso nas estrelas. Mãos calejadas movem a enxada sulcando a terra para aumentar a produção de grãos. Mentes engenhosas devotam-se às facilidades para atender as criaturas humanas, diminuindo-lhes a fome. Genetas mergulham a mente na multiplicação das formas da vida, para diminuir o aspecto destruidor da condição humana diante do destino que parece não ter fim, e Jesus, governando a nau terrestre, condu-la ao porto do seu destino.

Há sol que brilha, apontando-nos rumos nestes pélagos vorazes de um oceano tumultuado, como os nautas d’outrora, ante a estrela polar, encontravam o roteiro para as suas viagens de descobrimentos audaciosos e o Evangelho chega-nos, como a carta-roteiro para nos direcionarmos no tumulto e na confusão, a fim de encontrarmos o tesouro da paz.

Não vos desespereis, entregando-vos ao pessimismo ou à amargura, à doença dos sentimentos ou à indiferença com os destinos humanos.

Reencarnastes comprometidos com o Cristo vivo, no momento áspero da grande transição, para promover-lhes o bem, sem esperardes que sejam favoráveis às circunstâncias.

Herói que encontra pronto o campo e vencida a batalha não é digno das comendas, condecorações e da plenitude que lhe são reservadas. É necessária a luta tirânica, titânica, forte que prepara os lídimos doadores do bem.

Fossem diferentes as circunstâncias e ditosa a sociedade, qual seria a finalidade do Consolador?

Diversa fosse a paisagem da geopolítica humana, adiantaria, por acaso, que a Voz da Verdade viesse conclamar as consciências a assumir o papel que lhes está destinado?

E certo que se mede o valor do combatente pela força da refrega, e é na batalha que se consagram os mártires, os estoicos, os idealistas.

A Doutrina Espírita para nós é o campo fértil da nossa reabilitação dinâmica, no qual entesouraremos as moedas de luz, para atirá-las na direção do futuro, que veremos com olhos espirituais.

Abençoados pela paz, o que desfrutaremos em novas indumentárias carnais, sem o peso confrangedor dos delitos, dos desequilíbrios, das aflições? O vosso trabalho é de ensementar a palavra aluminífera no soluçar das vítimas.

Não viestes à Terra para colher, exceto os cardos deixados pelo caminho, recolhendo as agruras que a insensatez foi colocando pela estrada.

Conscientizai-vos de que o insucesso aparente é patamar de glória futura e a dificuldade do momento é o desafio para o amanhã.

Não vos faltarão, como não vos tem faltado, o apoio do Senhor, a misericórdia da paz e os recursos indispensáveis a uma jornada assinalada pela dignidade, pelo valor, pelas alegrias possíveis que refazem do cansaço para novos empreendimentos.

Não agasalheis sombras na alma, nem a rebelião dos atormentados do caminho, para que vos não torneis um deles.

Sede a voz da brandura, o ritmo do bem, o compasso do equilíbrio.

Torne-se vos a vossa a voz da esperança no meio do desconforto moral. Num barco que soçobra, alguém em equilíbrio torna-se a salvação do grupo desesperado. E se este alguém incorpora ao clamor dos aflitos, nenhuma vida ou embarcação se salvam.

Filhos da alma, amados companheiros. Não vos trazemos teorias inaplicáveis nesta hora, somos viandantes do mesmo caminho. Viajantes da mesma experiência. Não nos são estranhas as circunstâncias terrestres, que mudaram de tempo. Atualizaram métodos, mas não atuaram intrinsecamente nas causas.

Conhecemos o vale das experiências humanas, por onde transitamos ontem no corpo, e por onde deambulamos hoje com espírito imortal.

Temos a tarefa de vos alentar neste momento difícil e permitir que o vosso trabalho de luz vos clareie interiormente. E o bem, de que sois portadores, faça-vos bem.

E certo que muitas pressões vos constrangem o coração e maceram os sentimentos.

Que esperáveis? Estamos em um pioneirismo.

O Reino de Deus ainda não se estabeleceu e Jesus permanece o grande ignorado.

A sua Doutrina renascida na Revelação Espírita continua combatida para não ficar combalida. Ela se reestrutura nas vossas fracas forças.

Perseverai, pois, distendendo o bem.

Não seja a vossa a voz que aplaude o crime. Tampouco seja a vossa, a palavra estertorada que espalha petardos de violência.

Brandura, meus filhos, onde houver agressividade; paciência onde houver desesperação; coragem onde a fé parecer bater em retirada. Jesus conta conosco e formamos um grupo homogêneo, no qual à semelhança de uma roda, mudamos de postura.

Vós estais no corpo e nós outros fora dele, e amanhã estaremos ai e vós outros estareis conduzindo-nos.

Demo-nos, pois, as mãos, formando o elo forte da fraternidade salvadora, libertadora, sem a presunção de salvar os outros, mas com a intenção de nos salvarmos a nós mesmos, para que o nosso exemplo alente os que não estão com forças de levantar-se da luta.

A resistência de uma construção está na sua pedra mais frágil, quanto a força de uma corrente no seu elo menos resistente.

Unidos, esperançados, lograremos a nossa meta, que é implantar na Terra o Reino da Luz.

Assim, prossigais, neste valor de intimorato, prossegui, com firmeza, olhando para cima sem perder o contato com o chão, até o momento em que as asas da plenitude vos além à montanha da sublimação.

Nunca vos sintais a sós porque jamais estareis.

Prometo-vos, estar ao vosso lado até o fim, como Jesus tem feito conosco até aqui.

Desejava vos dirigir estas palavras, neste momento muito grave, para que o pessimismo que grassa, a revolta que se avoluma, o desencanto que cresce, não tome conta das vossas vidas.

Sois o prolongamento da Luz. Brilhai!

Nenhuma treva pode sobrepor-se à claridade diamantina da verdade.

Permanecei, portanto, espalhando essa luz e tornando-vos portadores dela, sem reclamação, porque vós pedistes a honra, a glória de servir, para mediante o serviço, serdes felizes.

Levai aos nossos amigos, nossos irmãos de luta, o bom humor e a coragem, a esperança e a fé, na certeza inquebrantável de que somos os heróis da sepultura vazia.

E nada nos deterá.

Ânimo, meus filhos, que o bem nos torne fortes, a caridade os torne livres e a verdade nos faça feliz.

São os votos que vos formula, o servidor humílimo e paternal de sempre.

Bezerra.

Que Deus vos abençoe.


Mensagem psicofônica com transfiguração, através do Médium Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Dr. Bezerra de Menezes em Valinhos – Chácara Rocinha - São Paulo, em 16 de Fevereiro de 1992.