“5Bem-aventurados
os mansos, porque eles herdarão a terra; 6 bem-aventurados os que
têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; 10
bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é
o reino dos céus. (Mt 5:5-6,10);
“20 E, levantando ele os olhos para os seus discípulos disse:
Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. 21
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos.
Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. 24 Mas
ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação. 25 Ai de vós,
os que estais fartos, porque tereis fome. Aí de vós os que agora rides, porque
vos lamentareis e chorareis!” (Lc 6:20, 21, 24-25).
CONSIDERAÇÕES GERAIS:
·
Vemos que tudo tem dois lados, duas faces;
·
Não basta fazermos uma afirmativa; devemos justificá-la.
INTERPRETAÇÕES:
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;” (Mt 5:5).
“BEM-AVENTURADOS” – Felizes, venturosos, afortunados;
“OS MANSOS” – Brando, pacífico,
sereno. Só podem ser mansos os que são menos egoístas, que pensam menos em si
mesmos. Os contentes com o que possuem. Os não ambiciosos. Não havendo luta
externa de caráter de conquista, haverá paz intima. Não queremos nos referir à ausência
de desejo, de esforço de progredir.
“PORQUE ELES HERDARÃO A TERRA” – Futuro, quer dizer em
consequência. Herdar é receber por herança. E é isso que realmente tem
acontecido. Desfrutamos, por misericórdia, inclusive da bênção de viver neste
mundo. TERRA dá a entender a parte materializada do mundo. Observamos que uma
pessoa, quanto menos quer mais desfruta. Quando há altruísmo, desprendimento,
mais pessoas confiam na gente, dando-nos ensejo a usufruir dos seus bens, sem
resistências, sem desconfianças. Só com serenidade podemos pensar e resolver
bem e, assim, dominar as situações.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles
serão fartos;” (Mt 5:6).
“BEM-AVENTURADOS” – Já citado;
“OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA” – Certamente nem todos já se preocupam com a justiça. Isso
revela certa evolução.
“JUSTIÇA” – Conforme o direito: virtude de dar a cada um o que é seu.
Bem-aventurados, portanto, porque já se encontram num estagio evolutivo mais
adiantado. Usando os termos FOME e SEDE lembra o corpo físico e a imperiosidade
de alimentar-se e beber para mantê-lo em equilíbrio. Também o nosso espírito
precisa suprir-se de coisas justas (FOME) e viver (SEDE) a justiça e também
incentivar-se com exemplos apoiados nela. Ora, se temos fome e sede de justiça,
é natural sejamos os primeiros a nos esforçar por sermos justos.
“PORQUE ELES SERÃO FARTOS” – Futuro, evidenciando
a decorrência;
“FARTOS” – Satisfeitos,
saciados. Quando fazemos justiça e os outros são justos conosco, sentimo-nos
como que alimentados espiritualmente falando. Quando há injustiça,
experimentamos uma sensação de carência. O “ter fome e sede” implica também em
trabalho no sentido de estabelecer a justiça onde nos seja dado influenciar.
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus.” (Mt 5:10).
“BEM-AVENTURADOS” – Já citados;
“OS QUE SOFREM PERSEGUIÇÃO POR CAUSA DA JUSTIÇA” – Num plano onde
predomina a injustiça (como a Terra, mundo de provas e expiações), é compreensível
a perseguição por causa da justiça. Não há efeito sem causa. Tudo tem uma razão
de ser. Antes, egoístas, materialistas, escravos de paixões, demos abrigo e
asas à injustiça. Natural que soframos agora. E, felizmente, por causa da
JUSTIÇA. É o fato de alguém constatar ser por causa da justiça por si só
deveria constituir-se em motivo de júbilo. Por isso é que Jesus fala:
“bem-aventurados”.
“PORQUE DELES É O REINO DOS CÉUS” – Aqui não é futuro, mas
ato contínuo, ao mesmo tempo. Se uma perseguição é injusta, torna-se evidente
que estamos certos, que permanecemos com o justo, que ficamos com o bem. Isso é
o bastante para assegurar a presença da luz em nosso intimo; dá tranquilidade
em nosso coração. Podem todos estar contra nós; se estamos com a consciência em
paz, Deus se encontra a nosso lado.
“E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia:
Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus.” (Lc 6:20).
“DISCÍPULO” – Aluno, aprendiz.
Qualidades: atenção, dedicação, obediência consciente, humildade, iniciativa.
Jesus, o Mestre por excelência. Se, levantava os olhos, quer dizer que o fazia
da terra, do chão para os discípulos. Essa atitude lembra nossos vínculos com o
mundo. Se vivermos com acerto na terra, ela como que nos oferece os degraus
necessários à nossa evolução.
“DIZIA” – Sempre que Jesus dizia
algo, transmitia uma mensagem, dava uma lição. Nada de palavras ociosas,
dispensáveis.
“BEM-AVENTURADOS” – Já citado.
“OS POBRES” – Pelo fato de a pessoa
ser carente, necessitada não significa que seja bem-aventurada. POBRE quer
dizer que reconhece a própria condição de necessitada. A situação daquele que
está consciente de que precisa aprender mais, compreender mais, realizar mais.
Que vive um clima de permanente vir a ser mais e melhor, espiritualmente,
falando.
“PORQUE VOSSO É O REINO DE DEUS” – O reino de Deus não vem com aparência exterior. Está dentro de
nós. Ora, se nos consideramos sempre em evolução, em aprendizado, jamais nos
decepcionamos com nós mesmos. Sabemos das próprias limitações. Não nos
supervalorizamos. Fazendo o que podemos e como podemos, continuamos com a paz
no coração, e isto é o reino de Deus.
“Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis
fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.” (Lc 6:21).
“BEM-AVENTURADOS VÓS” – Já citado.
“QUE AGORA” – Nem sempre foi assim. Tal fato representa evolução, e isso já
deve ser motivo de contentamento. Enfim, estamos nos despertando para o que é
verdadeiramente importante. Do ontem, deve restar a experiência. E nada de
conservar lembranças desagradáveis, destrutivas. Nada também de “acalentarmos”
o pretérito... O AGORA, o HOJE, assume capital importância. É decisivo.
Imperioso ser bem aproveitado em todos os sentidos.
“TENDE FOME” – Se olhado ao pé da
letra, no sentido literal, teríamos aqueles que já viveram na abastança e se
desequilibraram ou não lhe deram o devido valor. Agora, privados, aprendem a
lição, para mais tarde voltarem à experiência, com amplas possibilidades de
vencer. O mesmo se dá no campo moral, das virtudes. Do que realmente é necessário
à criatura, acabamos sentindo falta, até nos condicionarmos para merecê-lo.
Assim acontece com a solidariedade, a amizade, a colaboração, a justiça, etc.
“QUE AGORA CHORAIS” – Chorar, lamentando e não lamuriando. Os que hoje deploram as
próprias quedas estão se preparando, se fortalecendo para não mais cometê-las.
“PORQUE HAVEIS DE RIR” – Contentamento decorrente das próprias vitorias. Os êxitos,
principalmente espirituais, promovem justa satisfação. À tristeza de agora, se
não houver revolta, desespero, ausência de fé, sucederá a alegria. Não
consideremos isso, porém, só com relação à vida no plano espiritual. A coisa é
até para a terra mesmo, já que o espírito é imortal e pode usufruir de tudo
desde já.
“Mas ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação.” (Lc 6:24).
“MAS AÍ DE VÓS, RICOS!” – A riqueza em si não é boa nem má. Neutra, se tornará boa ou
má de acordo com o uso que fizermos dela. No caso, Jesus parece advertir os
ricos materialistas que fazem dos bens, de que são mordomos, são administradores
temporários, a razão de sua vida e de suas alegrias. Quem assim procede e tudo
coloca na dimensão apenas de uma vida física tão passageira, é, de fato, um
pobre coitado, digno de dó.
“PORQUE JÁ TENDES A VOSSA CONSOLAÇÃO” – Percebemos a falta de
visão dos que agem assim. Procuram tirar o máximo da vida terrena. Se não
sofrem já (na ilusão que vivem), virão a sofrer mais tarde, quando visitados
pelo sofrimento ou perceber que se aproximam do fim, vendo-se na contingência
de tudo abandonar, pois nada podem levar consigo. Como vemos o sofrimento já se
manifesta nesta existência e acompanha o espírito para o plano espiritual,
quando se conscientiza de que poderia ter vivido de modo totalmente diferente,
sendo mais útil ao próximo e a si mesmo.
“Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Aí de vós
os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis!”. (Lc 6:25).
“AI DE VÓS” – Antônimo de bem-aventurados;
“VÓS QUE ESTAIS FARTOS, PORQUE TEREIS FOME” – Quem tudo tem agora,
e não lhe dá valor, precisa tudo perder, para valorizar. Por nos encontrarmos
num mundo de provas e expiações, só apreciamos muita coisa depois que a
perdemos. E o problema não é do mundo, porém nosso mesmo, consequência de
nossas imperfeições. Muitos somente dão valor à saúde do corpo físico, quando
se encontram enfermos. Com o emprego acontece a mesma coisa, quando ficam
desempregados.
“AI DE VÓS” – Já citado;
“OS QUE AGORA RIDES” – Rir não é problema. Precisamos, contudo, ver quando como e
porque rimos. Se o fazemos em face das dificuldades alheias; por causa das
facilidades de uma existência temporal e temporária, é de se esperar que amanhã
sejamos convocados à realidade. Que a ilusão nos abandone. Examinemos se é
justa a nossa alegria, ou se estamos tapeando os outros e a nos mesmos com
falsas demonstrações de contentamento.
“PORQUE VÓS LAMENTAREIS E CHORAREIS.” – Mais cedo ou mais
tarde tomaremos conhecimento de tudo. Em face do ocorrido, lamentaremos a nós
mesmos, o nosso próprio procedimento.
Tendo livre-arbítrio, é natural que a lei de causa e efeito atue sobre
nós. Em consequência dos desatinos, hora de lastimar. E não teremos desculpas
para apresentar.
“E CHORAREIS” – E deplorareis. Na lamentação há como que uma autopunição.
Chorando, deplorando, já existe como que o desejo de nova experiência, de nova
oportunidade, com o sincero propósito de acertar.
Façamos diariamente um
exame de consciência, para vermos como temos vivido, para passarmos a viver de
modo a não termos do que nos lamentar.
Mt 5:5-6,10; Lc 6:20-21, 24-25;
João Ferreira de Almeida – RC;
Evangelho Segundo o Espiritismo
Capítulo 5, itens 1-2,18