EMMANUEL
- Pedro Leopoldo, 25 de março de 1947.
Prefácio do Livro – Mundo Maior - Francisco
Cândido Xavier - pelo Espírito André Luiz.
Dos
quatro cantos da Terra diariamente partem viajores humanos, aos milhares,
demandando o país da Morte. Vão-se de ilustres centros da cultura europeia, de
tumultuárias cidades americanas, de velhos círculos asiáticos, de ásperos
climas africanos. Procedem das metrópoles, das vilas, dos campos...
Raros
viveram nos montes da sublimação, (Purificar, expurgar de tudo o que é estranho ou impuro)
vinculados aos deveres nobilitantes (Enobrecer; engrandecer; ilustrar; celebrar). A
maioria constitui-se de menores de espírito, em luta pela outorga de títulos
que lhes exaltem a personalidade. Não chegaram a ser homens completos.
Atravessaram o “mare magnum” (s. m. - grande abundância, tropel, confusão: Estou envolvido
num mare-magnum de negócios. - que significam grande mar.) da
humanidade em contínua experimentação.
Muita
vez, acomodaram-se com os vícios de toda a sorte, demorando voluntariamente nos
trilhos da insensatez. Apesar disso, porém, quase sempre se atribuíam a
indébita condição de “eleitos da Providência”; e, cristalizados em tal
suposição, aplicavam a justiça ao próximo, sem se compenetrarem das próprias
faltas, esperando um paraíso de graças para si e um inferno de intérmino
tormento para os outros. Quando perdidos nos intrincados meandros do materialismo
cego, fiavam, sem justificativa, que no túmulo se lhes encerraria a memória; e,
se filiados a escolas religiosas, raros excetuados, contavam, levianos e
inconsequentes, com privilégios que jamais nada fizeram por merecer.
Onde
albergar a estranha e infinita caravana? Como designar a mesma estação de
destino a viajantes de cultura, posição e bagagem tão diversas?
Perante
a Suprema Justiça, o malgache (Língua oficial de Madagascar) e o inglês fruem
dos mesmos direitos. Provavelmente, porém, estarão distanciados entre si, pela
conduta individual, diante da Lei Divina, que distingue, invariavelmente, a
virtude e o crime, o trabalho e a ociosidade, a verdade e a simulação, a boa
vontade e a indiferença. Da contínua peregrinação do sepulcro, participam,
todavia, santos e malfeitores, homens diligentes e homens preguiçosos.
Como
avaliar por bitola única, recipientes heterogêneos? Considerando, porém, nossa
origem comum, não somos todos filhos do mesmo Pai? E por que motivo fulminar
com inapelável condenação os delinquentes, se o dicionário divino inscreve a
letras de logo as palavras “REGENERAÇÃO”, “AMOR” E “MISERICÓRDIA”? Determinaria
o Senhor o cultivo compulsório da esperança entre as criaturas, ao passo que
Ele mesmo, de Sua parte, desesperaria? Glorificaria a boa vontade, entre os
homens, e conservar-se-ia no cárcere escuro da negação? O selvagem que haja
eliminado os semelhantes, a flechadas, teria recebido no mundo as mesmas
oportunidades de aprender que felicitam o europeu supercivilizado, que
extermina o próximo à metralhadora? Estariam ambos preparados ao ingresso
definitivo no paraíso de bem-aventurança infindável tão somente pelo batismo
simbólico ou graças a tardio arrependimento no leito de morte?
A
lógica e o bom-senso nem sempre se compadecem com argumentos teológicos
imutáveis. A vida nunca interrompe atividades naturais, por imposição de dogmas
estatuídos de artifício. E, se mera obra de arte humana, cujo termo é a
bolorenta placidez dos museus, exige a paciência de anos para ser empreendida e
realizada, que dizer da obra sublime do aperfeiçoamento da alma, destinada a
glórias imarcescíveis (imperecível – eterno)?
Vários
companheiros de ideal estranham a cooperação de André Luiz, que nos tece
informações sobre alguns setores das esferas mais próximas ao comum dos
mortais.
Iludidos
na teoria do menor esforço, inexistente nos círculos elevados, contavam com
preeminência pessoal, sem nenhum testemunho de serviço e distantes do trabalho
digno, em um céu de gozos contemplativos, exuberante de conforto melifico (converter em mel).
Prefeririam a despreocupação das galerias, em beatitude permanente, onde a
grandeza divina se limitaria a prodigiosos espetáculos, cujos números mais
surpreendentes estariam a cargo dos Espíritos Superiores, convertidos em
jograis (bobos) de vestidura brilhante.
A
missão de André Luiz é, porém, a de revelar os tesouros de que somos herdeiros
felizes na Eternidade, riquezas imperecíveis; em cuja posse jamais entraremos
sem a indispensável aquisição de Sabedoria e de Amor.
Para
isto, não lidamos em milagrosos laboratórios de felicidade improvisada, onde se
adquiram dotes de vil preço e ordinárias asas de cera. Somos filhos de Deus, em
crescimento. Seja nos campos de forças condensadas, quais os da luta física,
seja nas esferas de energias sutis, quais as do plano superior, os ascendentes
que nos presidem os destinos são de ordem evolutiva, pura e simples, com
indefectível justiça a seguirmos de perto, à claridade gloriosa e compassiva do
Divino Amor.
A
morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca
promoverá compulsoriamente homens a anjos. Cada criatura transporá essa aduana
da eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado e aprenderá que a
ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos
imutáveis da Lei, em toda parte.
Ninguém,
depois do sepulcro, gozará de um descanso a que não tenha feito jus, porque “o
Reino do Senhor não vem com aparências externas”.
Os
companheiros que compreendem, na experiência humana, a escada sublime, cujos
degraus há que vencer a preço de suor, com o proveito das bênçãos celestiais,
dentro da prática incessante do bem, não se surpreenderão com as narrativas do
mensageiro interessado no servir por amor. Sabem eles que não teriam recebido o
dom da vida para matar o tempo, nem a dádiva da fé para confundir os
semelhantes, absorvidos, que se acham, na execução dos Divinos Desígnios.
Todavia, aos crentes do favoritismo, presos à teia de velhas ilusões, ainda
quando se apresentem com os mais respeitáveis títulos, as afirmativas do
emissário fraternal provocarão descontentamento e perplexidade.
É
natural; porém, cada lavrador respira o ar do campo que escolheu.
Para
todos, contudo, exoramos a bênção do Eterno: tanto para eles, quanto para nós.
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