À medida em que o espírito, em seu
natural processo de crescimento evolutivo, vai vencendo as etapas difíceis e
penosas, postas à sua frente pelas ocorrências circunstanciais que
apresentam-se testando-o em seu equilíbrio e harmonia interior, ele, muito
provavelmente, deixará em sua retaguarda, muitos afetos e desafetos que compõem
o substrato que serve de pano de fundo de sua existência.
Nessa caminhada, ocorrem habitualmente
as separações, as divergências e rupturas de afeições, os desencontros ou
reencontros, longos ou efêmeros, muitas vezes à revelia da própria vontade,
mostrando que nos encontramos submetidos à uma força estranha, que denominamos
ingenuamente de destino, que detém um comando superior às nossas possibilidades
de agirmos por vontade própria.
Embora capacitados para exercer o
livre-arbítrio sobre nossos pensamentos e desejos (vontade), abdicamos
espontaneamente desse potencial, para nos deixarmos levar pelos arrastamentos
das paixões aparentemente inofensivas, que nos acenam sedutoramente, com
atraentes armadilhas para os nossos sentidos, com toda a sua carga de
comprometimentos, em razão dos imprevisíveis desdobramentos que se seguirão
naturalmente.
Quando o Mestre Jesus ao esclarecer:
“...diante do altar, e ai perceberes que algum irmão tem algo contra ti,
reconcilia-te primeiro...”, certamente, esta recomendação possui um vasto
componente terapêutico, indicado como profilaxia emocional, pelo pressuposto
indicativo do uso de perdão, implícito na reconciliação, que reata as ligações
afetivas promovendo uma nova oportunidade de educação dos sentimentos, aos
espíritos envolvidos nestes reencontros.
É importante salientar que quanto mais
desafetos tenhamos inspirado ou cultivados, em nossa vivência terrena, mais
dificuldades encontraremos para avançar em nossa jornada evolutiva mesmo que em
nossas reencarnações, contemos com a benção do esquecimento, porquanto,
precisamos libertarmo-nos desses obstáculos que erigimos, posto que eles
compõem o lastro de nossas experiências infelizes que carregamos em nosso
inconsciente, requisitando, intuitivamente, a correspondente reparação para
retornarmos ao aprisco do Cristo.
Ante o exposto acima, a reconciliação
apresenta-se como a única chave capaz de nos libertar das cadeias do ego,
mostrando que mesmo conhecedores das lições de Jesus, ainda nos encontramos
envoltos pelas sombras da “persona”, que través das atitudes adotadas, máscaras
e disfarces variados que cultivamos, tentam, inutilmente, justificar o egoísmo
presente em nosso comportamento.
Portanto a reconciliação permite num
profundo trabalho de reconstrução interior, iniciando pela proposta da Doutrina
Espírita: “Homem! Conhece-te a ti mesmo”, que nos leva a reflexões de caráter
filosófico-morais, com lições de religiosidade, objetivando adequar o discurso
conceitual a uma prática de vida, efetivamente mais realista, que os postulados
espíritas nos levam a conhecer, porém, que somente a dor, o arrependimento, a
expiação e a consequente reparação permitem ao espírito, encarnado ou fora da
vestimenta física, retomar à administração de seu próprio caminho.
Neste caso, o “conhece-te a ti mesmo”,
é uma grande viagem de interiorização ao país dos sentimentos e emoções
presentes no inconsciente profundo do espírito, que leva-o a desvendar o
misterioso móvel que aciona a intencionalidade das ações do indivíduo,
descortinando um novo “Self” presente no ser imortal, porém ainda invisível
para boa parcela dos irmãos que lhes estão próximos, que no entanto, vez que
outras são detectados pelos mais sensíveis, quando jocosamente estabelece a
sabedoria popular ao dizer: “Quem não te conhece, que te compre”, revelando que
por detrás daquela aparência, existe um “ego” ou “alguém” diferente daquele
(persona) que se apresenta visível a todos.
Após descobrir as razões da
intencionalidade de duas ações, torna-se mais fácil identificar o que o
indivíduo pensa, como ele constrói o próprio pensamento e por que ele pensa
daquela forma, a fim de que sabendo-se assim, ou seja, conhecendo-se assim, ele
possa reconstruir-se a partir dos conhecimentos verdadeiros adquiridos com as lições
do Mestre Jesus, mudando o rumo de sua vida, com a adoção de novos paradigmas,
mas consentâneos com as Leis Divinas, que rege as conquistas porvindouras da
Humanidade.
Albino da Santa Cruz
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