Existem duas maneiras
principais de tornar possível o impossível.
1. A
primeira é ter bom senso.
2. A
segunda, acredite, é não utilizá-lo.
Se fizermos a seguinte
pergunta: “Qual é a qualidade que poucos
possuem, mas que todos julgam possuir?”, a resposta mais óbvia será: BOM SENSO. Faça uma pesquisa. Pergunte
a dez pessoas do seu relacionamento se elas julgam ter bom senso. Essa é uma
das poucas questões da vida em que há unanimidade nas respostas. Todos os seus
amigos, sem nenhuma exceção, irão dizer a você que são pessoas de bom senso.
Mas, como você os conhece bem, concluirá que não é bem assim....
Se quiser continuar a
pesquisa, faça a mesma pergunta a uma pessoa que você comprovadamente sabe que,
se há uma qualidade que ela não tem, essa qualidade é o bom senso. Porém, essa
pessoa totalmente desprovida de bom senso também dirá que a possui.
Mas, afinal, o que é uma
pessoa de bom senso? É aquela pessoa ponderada. É aquela que, ao necessitar
tomar uma decisão em relação a determinada questão, sabe ponderar, isto é, tem
habilidade para segmentá-la e atribuir pesos adequados a cada parte da questão
em análise.
Na análise de um problema, a
pessoa de bom senso enxerga à sua frente uma pizza fatiada. Cada fatia representa
um ângulo do problema a ser analisado. E, assim, a pessoa de bom senso valoriza
cada um dos ângulos e toma a decisão mais conveniente, que, como qualquer
decisão, certamente desagradará a uns e outros (algo que a pessoa de bom senso
tem plena consciência, pois ela sabe respeitar e entender as diferenças
individuais).
A pessoa de bom senso também
tem consciência de que, uma vez tomada determinada decisão, terá que
“trabalhar” os descontentes, pois, caso isso não seja feito, eles poderão
influir negativamente no resultado da ação a ser executada.
Sabe a pessoa de bom senso
que o descontente em relação a determinada decisão geralmente torce (muitas
vezes de forma inconsciente até) para a ocorrência do insucesso.
Utilizar o bom senso é a
primeira das duas principais maneiras de tornar possível o impossível. Agora,
vamos à segunda e mais importante forma de, neste tempo de descontinuidade,
conquistar o impossível: não utilizar o bom senso.
Não utilizar o bom senso? –
Não é paradoxal fazer tal afirmação, uma vez que contraria o que afirmei logo
no início deste artigo?
Acontece que não vivemos
mais em um mundo em que as ocorrências seguem uma lógica linear. Conviver com
paradoxos, agir muitas vezes de forma não-lógica (pelo menos considerando a
lógica dos velhos tempos) devem ser características básicas do líder atual. O
líder que sempre segue a corrente simplesmente faz o que todos fazem. E, quando
uma empresa faz o que todas fazem, ela não inova. E quem não inova não consegue
tornar possível o impossível.
Peço especial atenção para a
afirmação a seguir: “Não utilizar o bom senso”.
Perceba que não escrevi “não
ter bom senso”. Em vez de não ter bom senso, escrevi não utilizar o bom senso,
o que é bem diferente. A pessoa de bom senso pode, por sua conveniência, não utilizá-lo
às vezes.
A pessoa de bom senso
precisa ter consciência de que assim como em muitos momentos basta utilizar o
bom senso – como naqueles em que é necessário resolver problemas, inovar,
tornar possível o impossível –, também existirão momentos outros – em número
cada vez mais crescente – em que não utilizar o bom senso é a melhor saída. É
aquele momento em que você se desprende das normas, ignora as regras, enfim, é
o momento em que você contraria o bom senso, deixando-o de lado.
Tornar possível o impossível
é consequência da inovação. E a inovação é fruto da criatividade que, por sua
vez, manifesta-se mais facilmente quando utilizamos certa irreverência, isto é,
quando nos libertamos de normas e regras. Por isso é importante deixar o bom
senso de lado se quisermos criar um ambiente de certa irreverência, se
quisermos tornar possível o impossível.
Mas, atenção: embora em
muitos momentos possamos reprimir o bom senso para que a criatividade tenha
espaço para aflorar e tornar possível o impossível, sempre devemos solicitá-lo
quando precisamos colocar em ação as ideias inovadoras que nos ocorreram.
Alkíndar de Oliveira
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