Ary Brasil Marques
Estamos em 27 de novembro de 1872. Camille Flammarion, o grande
astrônomo, estava na cidade de Roma. Ele estava se recuperando de uma terrível
doença que tivera, a malária. Sentia-se ainda muito fraco, e por essa razão
deitou-se cedo. Eram ainda 6 horas da tarde, e o nosso querido astrônomo estava
acostumado a varar a noite em suas observações. Aquele dia, porém, não
conseguiu ficar em pé e foi repousar.
Existia no século XIX um cometa chamado Biela, que cortava os céus de
nosso planeta a cada seis anos e meio. Mas, em 1846, aconteceu algo que não
estava no programa: o cometa dividiu-se em dois! Cada um dos novos cometas
seguiu então sua órbita própria, embora paralelas. Entretanto, um deles foi-se
afastando do outro gradativamente: passado um mês, estava 60.000 léguas na
dianteira do parceiro. Quando os dois foram de novo avistados na Terra, seis
anos e meio depois, já estavam a 50.000 léguas um do outro. Os dois cometas
irmãos ficaram muito tempo desaparecidos, mas exatamente no dia 27 de novembro
de 1872 voltaram. Só que estavam mudados: agora haviam-se transformado em
milhares de meteoritos brilhantes disparando sempre pela mesma trajetória no
espaço. Os dois cometas tinham-se fragmentado completamente, passando a cruzar
os céus transformados em poeira de estrelas. Os astrônomos da época chegaram a
contar 160.000 pedaços do ex-cometa passando pelo firmamento terrestre naquela
noite de 1872. Para os astrônomos, aquele era um espetáculo dos deuses.
Imperdível.
Segundo nos conta Monteiro Lobato, em seu livro Viagem ao Céu, justamente
no dia do maior espetáculo acontecido nos céus, Camille Flammarion, astrônomo e
um dos precursores da ciência espírita, perdeu essa visão maravilhosa. Ninguém
o avisou, porque estavam todos fascinados pelo espetáculo celeste, e quando
Flammarion acordou ficou amargurado por sua perda. Um espetáculo que jamais
iria acontecer novamente, e que para ele, profissional da Astronomia,
representou a maior perda que um ser humano teria na vida.
Vejam vocês, até os grandes homens, podem ter momentos de tristeza e de
fracasso.
SBC, 15/08/2007.
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