Paiva Júnior
Aos 18 de março de 1.949 desaparecia
do plano físico, no Rio de Janeiro, um verdadeiro servo da caridade: o
Comandante João Luís de Paiva Júnior, coração de ouro sob um véu de aparente
severidade.
Nascera ele no Rio de Janeiro, em 9 de
abril de 1.870, tendo por pais João Luís de Paiva e Maria Delfina da Conceição
Paiva. Fora o pai excelente ator, tendo trabalhado ao lado de João Caetano e
outros ilustres artistas da época.
Na primeira mocidade, Paiva Junior foi
caixeiro, impressor e até ourives. O seu grande sonho, porém, era a Marinha de
Guerra, e para ela entrou ainda bem jovem. Durante 52 anos e dez meses
desempenhou dignamente suas funções na Intendência, reformando-se no posto de
Almirante. Durante todo esse tempo, teve oportunidade de conhecer e privar com
gloriosos vultos de nossa Marinha.
Em 1.905, sofrimentos físicos e
espirituais fizeram-no aceitar o convite de um colega, que com ele insistia
para comparecer ao Centro Espírita Santo Agostinho, existente no Méier,
Guanabara. Ali foi o então tenente Paiva, e dali saiu ele transformado, para o
Espiritismo. Entusiasmou-se com as revelações contidas nas obras de Allan
Kardec, e ei-lo, anos depois, presidente daquele Centro aonde foi pela primeira
vez.
Continuando sempre como presidente,
mais tarde mudou o Centro para Jacarepaguá, denominando-o, desde essa época,
Centro Espírita de Jacarepaguá.
Em 27 de fevereiro de 1.913,
ingressava na “Assistência aos Necessitados” da Federação Espírita Brasileira o
capitão de corveta João Luís de Paiva Junior, onde, através de sua mediunidade
receitista, passou a ter contato mais direto com os menos favorecidos da sorte,
desses que batem à porta da Casa de Ismael, em busca de socorro material e
espiritual. Era, então, diretor da “Assistência aos Necessitados” outro
inolvidável semeador da caridade, Pedro Richard.
Em 1.915, Paiva Júnior foi eleito
Tesoureiro da Federação, mas o certo é que seu Espírito não se sentia bem nesse
novo setor de trabalho, seu pensamento estava sempre voltado para os
sofredores, para os pobres, e seu desejo era dedicar-se de todo o coração, à
seus irmãos em
Humanidade. Retornou , pois, à Comissão de Assistência, onde a
sua dedicação e amor se faziam sentir de maneira relevante, resolvendo,
satisfatoriamente, as difíceis tarefas que lhe eram confiadas. Suas palavras,
proferidas sempre sem afetação, com natural e sincera vibração evangélica,
tinham o dom de reanimar almas abatidas, reconfortar enfermos.
Em 1.923, viu-se eleito para o
espinhoso cargo de Diretor da Assistência aos Necessitados, cargo que
ininterruptamente desempenhou até seu Espírito ser chamado para as etéreas regiões
do Além.
Vinte e seis anos consecutivos esteve
ele na direção dessa Comissão de Assistência, e só quem conhece o que seja o
trabalho desse Departamento da Federação é que pode calcular quanto amor
existia em seu coração!
Conhecido de todos por Comandante
Paiva, seu nome tornou-se um símbolo de paz e de misericórdia para os
necessitados. Fazia prodígios com as verbas de que dispunha, parecendo, até,
que elas se multiplicavam em contato com suas mãos dadivosas.
Todos quantos durante aqueles vinte e
seis anos subiam as escadarias do venerável edifício da Avenida Passos não
podiam admitir o Departamento de Assistência sem a figura austera do Comandante
Paiva. É que, muito embora tivesse ele de exercer os encargos atinentes ao seu
posto de oficial superior de nossa Marinha de Guerra, jamais deixou de passar
horas a fio, diariamente, durante vários lustros, em seu gabinete de trabalho
na Federação Espírita Brasileira. Ele e a Assistência se confundiam. Sua palavra
era fluente e sempre modulada ao ritmo do Evangelho. Recebia o maltrapilho com
o mesmo carinho e atenção que tributava aos que, bem vestidos ou detentores de
ótimas posições sociais, o procuravam na esperança de um alívio para os seus
padecimentos.
Em Setembro de 1.925, certo médico,
interessado no descrédito das curas espíritas, teceu, junto ao Inspetor da
Fiscalização da Medicina, uma historia caluniosa, em que a honrada figura de
Paiva Júnior era o acusado principal.
Foi ele então processado como incurso
no exercício ilegal da medicina. Após examinar os autos, o ínclito e saudoso
Dr. Bento de Faria, mais tarde Ministro do Supremo Tribunal Federal, emitiu
parecer, em que requeria o arquivamento do inquérito sobre o caso, por não
encontrar justa causa para denúncia. À vista desse parecer, o Doutor Eurico
Cruz, da Segunda Vara Criminal, mandou arquivar o processo.
Paiva Júnior tinha o hábito de ouvir
os pobres um a um e em particular, tarefa que ele desempenhava com uma
paciência verdadeiramente cristã, e a levava tão a sério que, nessas horas de
contato com a gente humilde do povo, a ninguém mais atendia, mesmo de elevada
posição social.
Sua atuação evangélica não ficou
restrita ao Estado da Guanabara, alargou-se pelo Brasil inteiro, e foi mais
além, transpôs o Atlântico. Assim é que de Portugal e da Espanha lhe chegavam,
quase que diariamente, as mais diversas solicitações de assistência. Antes da última
guerra mundial, inúmeras eram as cartas que vinham ter às suas mãos, escritas
por pessoas angustiadas residentes na França, essa França que foi berço de
Allan Kardec.
Podendo viver uma vida despreocupada,
Paiva Júnior empregou todo o seu tempo disponível na pratica da Caridade, e o
fez, é bom frisar, com alma e coração, sem pensar em qualquer recompensa
futura, convicto de que apenas cumpria um dever de irmão para com outro irmão
em Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário