Difunde-se muito, na atualidade, o
conceito equivocado de que, padecer sofrimentos de qualquer natureza, é um
sinal indicativo de infelicidade ou atraso moral, como se as pessoas
supostamente felizes, já tivessem superado todas as imperfeições e, jamais
sofressem qualquer tipo de dores e aborrecimentos, gozando de uma excepcional
posição de conforto, isento de qualquer contrariedade.
Ainda perdura culturalmente no homem,
embora os notáveis avanços das Ciências, que proporcionam uma excelente
qualidade de vida à grande parte da população, a ideia religiosa de felicidade,
ligada às benesses de um paraíso de delícias eternas, onde a Bondade Divina
acena com a concessão da felicidade sem esforços, sem trabalho, sem
contrariedades e sem sofrimentos e, provavelmente sem méritos, para ser
usufrutuário disso tudo, sem uma contribuição qualquer por menor que esta seja,
em oposição à ideia de estudiosos, pesquisadores e psicólogos, que estabelecem
que o homem, de maneira geral, é o resultado daquilo que ele faz de si mesmo.
É fácil comprovação entender, que o
sofrimento que provoca padecimentos no indivíduo, decorre normalmente das
imperfeições que ele ainda carrega, por ignorância, falta de conhecimentos das
injustiças existenciais, rebeldia ou não aceitação dos desafios e impedimentos
contingenciais presentes na existência, que nem sempre se apresentam
favoráveis, contrariando as expectativas aguardadas, frustrando sonhos e
condenando ao fracasso, os projetos de felicidade duradoura que não foram
atingidos, deixando em seu lugar um imenso vazio, como se o infortúnio fosse a
única herança possível, que restasse ao indivíduo, como fatalidade do destino.
É preciso dilatar o entendimento de
que, embora esteja sofrendo, o indivíduo pode encontrar muitas razões ou
motivos para ser feliz, ou, pelo menos sentir-se feliz em várias circunstâncias
de sua vida, e, por outro lado, também pode suceder, que as razões dos
sofrimentos de agora, preparem o terreno, para um possível período de
serenidade, paz e relativa felicidade que se vislumbra no porvir.
Além disso, contrariedades,
padecimentos, dores e sofrimentos, nem sempre significam atraso moral ou
resgate de dívidas do passado, porquanto, os mártires do amor e do ideal do bem
ao semelhante, incansáveis batalhadores da compaixão e da solidariedade humana,
muito sofreram para edificarem no seio da humanidade a misericórdia, o
altruísmo e a solidariedade, a bondade, a caridade e o amor ao próximo, em nome
destes ideais que cultivam, sem que isso impedisse a presença da felicidade,
visto que estes padecimentos aconteciam em nome do bem e do amor.
Jesus, em certo momento, faz
referência nesse sentido dizendo: “E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo
amor ao meu nome”, mostrando que aquele que tem amor, tem ideal no bem,
certamente sofrerá padecimentos, notadamente quando se tem Jesus como modelo
desse ideal, encontrará resistências e dificuldades inúmeras para se fazer
compreendido pelos demais, que por não compartilharem da mesma causa, não
postulam os mesmos princípios éticos morais, não compreendem tais propósitos
nobres, por não possuírem tais preocupações, no entanto, não obstante os
imensos obstáculos do caminho, estes idealistas, continuam firmes e
perseverantes, sem tréguas, desânimo ou esmorecimento, acumulando dificuldades
e padecimentos adversos, porém, felizes e seguros do que fazem, alimentados
pela convicção de que sofrem hoje, para garantir no porvir, um amanhã de
serenidade e paz, guardando a certeza de que o padecimento é tão somente uma
ligeira etapa na infinitude da felicidade.
Esses mártires do amor, encontram-se
espalhados por toda a terra, sempre dispostos a autodoação, onde quer que
exista alguém, em extrema necessidade, de olhar tímido, com a mão estendida em
súplica silenciosa.
Inocência da Caridade
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