Antônio
Gonçalves da Silva (Batuíra)
Nascido a 26 de dezembro de
1838, em Portugal, na Vila Meã, freguesia de São
Tomé do Castelo, concelho de
Vila Real e desencarnado em São Paulo, no dia 22 de janeiro de 1909.
Completada a sua instrução
primária, veio para o Brasil, com apenas doze anos de idade, aportando no Rio
de Janeiro, a 3 de janeiro de 1850.
Seu nome de origem era Antônio
Gonçalves da Silva, entretanto, devido a ser um moço muito ativo, correndo
daqui para acolá, a gente da rua o apelidara "o Batuíra", o nome que
se dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de voo rápido, que frequentava os
charcos na várzea formada, no atual Parque D. Pedro II, em S. Paulo, pelos transbordamentos
do rio Tamanduateí.
Desde então o cognome
Batuíra foi incorporado ao seu nome.
Batuíra desempenhou uma
série de atividades que não cabe registrar nesta concisa biografia, entretanto,
podemos afirmar que defendeu calorosamente a ideia da abolição da escravatura
no Brasil, quer seja abrigando escravos em sua casa e conseguindo lhes a carta
de alforria, ou fundando um jornalzinho a fim de colaborar na campanha encetada
pelos grandes abolicionistas Luiz Gama, José do Patrocínio, Raul Pompéia, Paulo
Ney, Antônio Bento, Rui Barbosa e tantos outros grandes paladinos das ideias
liberais.
Homem de costumes simples,
alimentando-se apenas de hortaliças, legumes e frutas, plantava no quintal de
sua casa tudo aquilo de que necessitava para o seu sustento.
Com as economias, adquiriu
os então desvalorizados terrenos do Lavapés, em S. Paulo, edificando boa casa
de residência e, ao lado dela, uma rua particular com pequenas casas que
alugava a pessoas necessitadas. O tempo contribuiu para que tudo ali se valorizasse,
propiciando a Batuíra apreciáveis recursos financeiros. A rua particular deveria
ser mais tarde a Rua Espírita, que ainda lá está.
Tomando conhecimento das
altamente consoladoras verdades do Espiritismo, integrou-se resolutamente nessa
causa, procurando pautar seus atos nos moldes dos preceitos evangélicos.
Identificou- se de tal
maneira com os postulados espíritas e evangélicos que, ao contrário do
"moço rico" da narrativa evangélica, como que procurando dar uma
demonstração eloquente da sua comunhão com os preceitos legados por Jesus
Cristo, desprendeu-se de tudo quanto tinha e pôs-se a seguir as Suas pegadas.
Distribuiu o seu tesouro na
Terra, para entrar de posse daquele outro tesouro do Céu.
Tornou-se um dos pioneiros
do Espiritismo no Brasil. Fundou o "Grupo Espírita Verdade e Luz", onde,
no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme assembleia, dava início a uma série
de explanações sobre "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
Nessa oportunidade deixara
de circular a única publicação espírita da época, intitulada "Espiritualismo
Experimental" redigida desde setembro de 1886, por Santos Cruz Junior.
Sentindo a lacuna deixada por essa interrupção, Batuíra adquiriu uma pequena tipografia,
a que denominou "Tipografia Espírita", iniciando a 20 de maio de
1890, a publicação de um quinzenário de quatro páginas com o nome "Verdade
e Luz", posteriormente transformado em revista e do qual foi o diretor
responsável até a data de sua desencarnação.
A tiragem desse periódico
era das mais elevadas, pois de 2 ou 3 mil exemplares, conseguiu chegar até 15
mil, quantidade fabulosa naquela época, quando nem os jornais diários
ultrapassavam a casa dos 3 mil exemplares. Nessa tarefa gloriosa e ingente
Batuíra despendeu sua velhice. Era de vê-lo, trôpego, de grandes óculos, debruçado
nos cavaletes da pequena tipografia, catando, com os dedos trêmulos, letras no
fundo dos caixotins.
Para a manutenção dessa
publicação, Batuíra despendeu somas respeitáveis, já que as assinaturas somavam
quantia irrisória.
Por volta de 1902 foi levado
a vender uma série de casas situadas na Rua Espírita e na Rua dos Lavapés, a
fim de equilibrar suas finanças.
Não era apenas esse
periódico que pesava nas finanças de Batuíra. Espírito animado de grande
bondade, coração aberto a todas as desventuras, dividia também com os necessitados
o fruto de suas economias.
Na sua casa a caridade se
manifestava em tudo: jamais o socorro foi negado a alguém, jamais uma pessoa
saiu dali sem ser devidamente amparada, havendo mesmo muitas afirmativas de que
"um bando de aleijados vivia com ele". Quem ali chegasse, tinha cama,
mesa e um cobertor.
Certa vez, um desses homens
que vivia sob o seu amparo, furtou-lhe um relógio de ouro e corrente do mesmo
metal. Houve uma denúncia e ameaças de prisão.
A esposa de Batuíra lamentou-se,
dizendo: É o único objeto bom que lhe resta. Batuíra, porém, impediu que se
tomasse qualquer medida, afirmando: Deixai-o, quem sabe precisa mais do que eu.
Batuíra casou-se em
primeiras núpcias com Da. Brandina Maria de Jesus, de quem teve um filho,
Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a desencarnar depois de homem feito e
casado.
Em segundas núpcias, casou-se com Da. Maria das Dores Coutinho e Silva;
desse casamento teve um filho, que desencarnou repentinamente com doze anos de
idade.
Posteriormente adotou uma
criança retardada mental e paralítica, a qual conviveu em sua companhia desde
1888.
Figura bastante popular em
S. Paulo, Batuíra tornou-se querido de todos, tendo vários órgãos da imprensa
leiga registrado a sua desencarnação e apologiado a sua figura exponencial de
homem caridoso e dedicado aos sofredores.
Fonte: Grandes
vultos do Espiritismo - A vida surpreendente de Batuíra,
Apolo Oliva Filho e Boletim SEI n. 2149, ed. Lar Fabiano de Cristo.
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