“Se tu me amas” disse Jesus ao
discípulo ansioso, que aguardava alguma recomendação para servir-lhe de roteiro
iluminativo, quando em continuidade à preleção esclarecedora o Mestre Galileu
conclui: “Renuncia a ti mesmo. Tome a tua cruz e siga-me”.
Neste diálogo pequenino, porém,
profundamente ilustrativo quanto aos desdobramentos porvindouros que aguarda
todos quantos se dispõem a seguir o Mestre Jesus, pode se prever de maneira
inequívoca os graves testemunhos morais que repletam a jornada existencial dos
seareiros do bem.
Seguir a Jesus, sem dúvida alguma,
requisita muito amor, tendo em vista a necessidade que o indivíduo tem de
doar-se constantemente, colocando-se disponível para a execução de qualquer
tarefa, em momentos de graves ocorrências familiares, com prejuízo do seu
próprio bem-estar, para atender muitas vezes pessoas estranhas e ingratas,
cujas necessidades são as mesmas que eles próprios possuem e não são atendidas.
Demonstrar amor pelo próximo, em
condições tão adversas como as expostas acima, é o que aguarda todos quantos
almejam seguir Jesus, visto que não é fácil amar com tanto desprendimento sem
que haja uma grande dose de renúncia, a fim de levar a bom termo a tarefa que
foi designada de sua responsabilidade, e que precisa ser desempenhada com
presteza, pois o amparo ao semelhante em nome de Jesus, não pode sofrer atraso,
sob pena de não ter mais serventia ou utilidade.
Pode-se pois, deduzir-se do texto
inicial, conforme fica evidenciado, que as palavras de Jesus são proféticas
quanto aos eventos que se sucederão, posto que, embora a distância que separa
aqueles dias do Evangelho nascente, até os dias de agora, o homem, enquanto
espírito imortal, pouco tem avançado no que respeita aos seus sentimentos e
emoções, ainda tão próximos do primitivismo e da animalidade.
A ingratidão ainda é um sentimento
muito comum entre as criaturas, mesmo quando estão sendo beneficiadas, não
somente entre estranhos como também entre familiares, que supostamente deveriam
cultivar afeição e amorosidade entre seus membros, e no entanto, não é isso o
que se vê, posto que, frequentemente, o noticiário revela os crimes cometidos
por pais, filhos e demais parentes, mostrando a ausência de bons sentimentos
entre eles, notadamente, quando existe valores amoedados ou bens de qualquer
espécie, gerando os conflitos que deságuam em trágicos desfechos, dando conta
da miséria moral em que o homem ainda se encontra acorrentado, mesmo com o conhecimento
que já possui.
Portanto, Jesus ao recomendar que cada
um tomasse a própria cruz e o seguisse, está convidando as criaturas a viverem
suas vidas conforme elas se apresentam, com dificuldades, aflições, fracassos,
frustrações, doenças graves e transtornos mentais e emocionais, sem no entanto
deixar de segui-lo, confiantes nas lições do Evangelho, solidário ante o
sofrimento do próximo, prestativo no exercício da caridade, pacificado no
próprio coração em razão do dever retamente cumprido, além de paciente ante as
cobranças que lhes são feitas, tolerantes para com as fraquezas alheias, sem
aderir as licenças morais tão em voga em alguns círculos sociais, sem
contaminar-se com alguns costumes que se tornaram hábitos, porém, nem por isso
deixaram de ser lícitos.
Com certeza a lista de tentações é
imensa, exigindo muita firmeza nas atitudes e convicção nos ideais, daquele que
se inscreve como, seareiro do Cristo, posto que, naturalmente todos trazemos
estas imperfeições do nosso passado, e em razão da benção do esquecimento pela
reencarnação, desconhecemos se somos ou não vulneráveis a tais fraquezas,
necessitando defrontarmos com todas elas, para poder vence-las, amparados pelos
conhecimentos que já possuímos, e assim, escolher com mais critério e bom
senso, um caminho mais consentâneo com a Ética Cristã conforme a Doutrina
Espírita nos apresenta.
É neste ponto, que o trabalhador do
bem, servidor da Seara do Mestre, demonstra o nível de consciência já
conquistada, capacitado que se encontra para vencer as próprias imperfeições,
testemunhando com coragem e resignação frente as provações dilacerantes que lhe
alcançam, sem perder a fé e a esperança no porvir, porque tem confiança em
Deus, no Seu amor e na sua misericórdia para com todos os seus filhos, sem
exceção.
Albino da Santa Cruz
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