quinta-feira, 3 de abril de 2014

PODEMOS VENCER A DEFICIÊNCIA


Ary Brasil Marques


Acidentes acontecem. Um dia, sem aviso prévio, acontece algo em nossa vida que muda completamente a nossa trajetória e os nossos planos.


Aconteceu comigo. Nunca eu tinha tido pressão alta ou problemas de qualquer natureza. De repente, um AVC. E com ele, a paralisação de todo o meu lado esquerdo.


Resisti. Lutei. Consegui a recuperação dos movimentos, embora ficasse uma sequela. Eu já não podia correr nem saltar.


Definiram-me como deficiente físico. Passei a fazer parte de um grupo de pessoas que a maioria acha serem seres fragilizados. Muita gente olha para mim e quer me ajudar, vendo que a minha locomoção é mais lenta e difícil. São pessoas de boa vontade. Acreditam que assim agindo podem fazer algo para minimizar o nosso problema.


Nunca me considerei deficiente. Nunca, graças a Deus, reclamei da vida. Nunca culpei ninguém. Sempre soube que no planeta Terra, em nossas diversas reencarnações, passamos por diversos estágios necessários ao nosso aperfeiçoamento e evolução. Sei também que, ao longo do caminho, vamos colhendo aquilo que plantamos em vidas anteriores e também na atual.


Receber sem revolta nem queixas faz com que tenhamos forças para enfrentar a nova situação que por algum tempo será necessária para crescermos e para alcançar estágios melhores de evolução.


Quero deixar aqui um incentivo para todos aqueles que forem atingidos por situações semelhantes. Nada na Terra é definitivo. Tudo passa. Todos os momentos da vida, mesmo os mais difíceis, passam, e devemos nos lembrar que nada está perdido. Somos espíritos imortais, indestrutíveis.


Posso afirmar, sem medo de errar, que o tempo de vida que passei com a marca de paraplégico foi mais produtivo e mais repleto de satisfação espiritual do que o tempo anterior, quando eu gozava da melhor forma física.


Deficiência física não é deficiência mental. Temos algumas limitações, é verdade, mas podemos fazer bem quase todas as coisas.


O importante é nos aceitar como estamos no momento, levantar a cabeça e trabalhar. Depois que eu tive o acidente vascular fiz cursos, proferi palestras, escrevi artigos, dei aulas, li bastante e resolvi milhares de problemas de palavras cruzadas. Viajei, passeei, conheci vários estados brasileiros e alguns dos Estados Unidos, dei amor e carinho à minha família e me esqueci completamente da falada deficiência.


Jamais fui infeliz. A falta de uma locomoção mais desenvolta fez com que eu me dedicasse muito mais à parte espiritual e pensasse muito mais nos outros do que em mim próprio.


Estou escrevendo tudo isso para tentar ajudar as pessoas que se veem acometidos de acidentes os mais diversos, e que ficam depressivos e reclamando o tempo todo. Não reclamem. Não se julguem inferiores. Confiem em Deus e em si próprios. Estudem. Trabalhem. Amem.


Ao fazer isso, vocês verão que o bicho não é tão feio como parece. O ser humano tem potenciais infinitos de recuperação. Continuem firmes e vivam intensamente no bem e no amor ao próximo. O mais nos será dado a todos pelo acréscimo da misericórdia de nosso Pai Celestial.



SBC, 25/06/2007.

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