Ary Brasil Marques
Acidentes
acontecem. Um dia, sem aviso prévio, acontece algo em nossa vida que muda
completamente a nossa trajetória e os nossos planos.
Aconteceu
comigo. Nunca eu tinha tido pressão alta ou problemas de qualquer natureza. De
repente, um AVC. E com ele, a paralisação de todo o meu lado esquerdo.
Resisti.
Lutei. Consegui a recuperação dos movimentos, embora ficasse uma sequela. Eu já
não podia correr nem saltar.
Definiram-me
como deficiente físico. Passei a fazer parte de um grupo de pessoas que a
maioria acha serem seres fragilizados. Muita gente olha para mim e quer me
ajudar, vendo que a minha locomoção é mais lenta e difícil. São pessoas de boa
vontade. Acreditam que assim agindo podem fazer algo para minimizar o nosso
problema.
Nunca
me considerei deficiente. Nunca, graças a Deus, reclamei da vida. Nunca culpei
ninguém. Sempre soube que no planeta Terra, em nossas diversas reencarnações,
passamos por diversos estágios necessários ao nosso aperfeiçoamento e evolução.
Sei também que, ao longo do caminho, vamos colhendo aquilo que plantamos em
vidas anteriores e também na atual.
Receber
sem revolta nem queixas faz com que tenhamos forças para enfrentar a nova
situação que por algum tempo será necessária para crescermos e para alcançar
estágios melhores de evolução.
Quero
deixar aqui um incentivo para todos aqueles que forem atingidos por situações
semelhantes. Nada na Terra é definitivo. Tudo passa. Todos os momentos da vida,
mesmo os mais difíceis, passam, e devemos nos lembrar que nada está perdido.
Somos espíritos imortais, indestrutíveis.
Posso
afirmar, sem medo de errar, que o tempo de vida que passei com a marca de
paraplégico foi mais produtivo e mais repleto de satisfação espiritual do que o
tempo anterior, quando eu gozava da melhor forma física.
Deficiência
física não é deficiência mental. Temos algumas limitações, é verdade, mas
podemos fazer bem quase todas as coisas.
O
importante é nos aceitar como estamos no momento, levantar a cabeça e
trabalhar. Depois que eu tive o acidente vascular fiz cursos, proferi
palestras, escrevi artigos, dei aulas, li bastante e resolvi milhares de
problemas de palavras cruzadas. Viajei, passeei, conheci vários estados
brasileiros e alguns dos Estados Unidos, dei amor e carinho à minha família e
me esqueci completamente da falada deficiência.
Jamais
fui infeliz. A falta de uma locomoção mais desenvolta fez com que eu me
dedicasse muito mais à parte espiritual e pensasse muito mais nos outros do que
em mim próprio.
Estou
escrevendo tudo isso para tentar ajudar as pessoas que se veem acometidos de
acidentes os mais diversos, e que ficam depressivos e reclamando o tempo todo.
Não reclamem. Não se julguem inferiores. Confiem em Deus e em si próprios.
Estudem. Trabalhem. Amem.
Ao
fazer isso, vocês verão que o bicho não é tão feio como parece. O ser humano
tem potenciais infinitos de recuperação. Continuem firmes e vivam intensamente
no bem e no amor ao próximo. O mais nos será dado a todos pelo acréscimo da
misericórdia de nosso Pai Celestial.
SBC,
25/06/2007.
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