quarta-feira, 19 de março de 2014

A CULPA


Ary Brasil Marques

Todas as religiões dão uma importância muito grande à culpa e ao pecado. Geralmente os crentes se colocam diante do Pai como pecadores rastejantes, cheios de culpa e de remorsos, implorando      o perdão e se julgando indignos dele.

Está na hora de mudarmos esses velhos conceitos. Está na hora de eliminarmos de nosso coração aquele bichinho incômodo que é o sentimento de culpa. Está na hora de entendermos que todas as nossas experiências, boas ou más, servem apenas de meios de aprimoramento, e nossas quedas, ao invés de nos aborrecerem, devem ser encaradas como oportunidades maravilhosas de progresso, de aprendizagem, de evolução.

Jesus, o Mestre maior, nos ensinou o perdão. E o perdão deve começar conosco mesmo. Devemos nos perdoar, assim como o princípio do amor também é conosco mesmo. Só conseguiremos amar o     semelhante se antes aprendermos a nos amar.

E para nos amar, temos de nos perdoar. Nada de ficar remoendo culpas, nada de nos encher de remorsos. Se erramos, aprendamos com nosso erro a nos     corrigir, a não errar mais; tiremos de nosso erro os aspectos positivos, pois eles servem para nos impulsionar na senda do progresso. 

É caindo que aprendemos a nos levantar. É cometendo erros que encontramos meios de sacudir o espirito de sua inoperância e de achar caminhos novos de progresso. O que devemos fazer é uma análise profunda e sem choramingas de nossa atuação diante da vida, diante de nossos semelhantes, diante de Deus, e, em encontrando falhas, o que é muito natural pois somos ainda     todos espíritos inferiores em fase inicial de progresso, procurar reparar tais falhas e erros com decisão e muito amor.

Espelhemo-nos nos exemplos do Cristo e procuremos modificar nossa vida para melhor com um trabalho sério, contínuo, efetivo, mantendo o coração aberto e livre de falsos sentimento de culpa.

A ideia do pecado é uma ideia superada. Pecado é o ato de todos aqueles que ainda não tiveram a felicidade de encontrar o caminho maravilhoso traçado pelo Mestre. Mas pecado é também o exercício do livre arbítrio nas experiências de aprendizado. O Pai de amor e de bondade nos outorgou o direito de procurarmos seguir adiante com nossas próprias pernas, e o fato da nossa inexperiência faz   com que muitas vezes a gente erre, siga por caminhos tortuosos, mas ‚ exatamente esse exercício do livre arbítrio que nos faz progredir e avançar.

Deixemos, pois, de lado a ideia de culpa e do pecado, e lembremo-nos sempre das palavras de Pedro que nos diz que o amor cobre a multidão de pecados. Eis aí o segredo. O amor cobre todos os pecados. Se partirmos com decisão para o amor, começando por nos amar a nós mesmos, e amarmos com A maiúsculo a todos os nossos semelhantes, ao mundo em que vivemos, a natureza, a beleza, as artes, aquilo que é bom e belo, não teremos necessidade de ficar pelos cantos chorando as nossas fraquezas e as nossas culpas.


SBC, 25/04/2007.

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