Ary Brasil Marques
Todas as religiões dão uma
importância muito grande à culpa e ao pecado. Geralmente os crentes se colocam
diante do Pai como pecadores rastejantes, cheios de culpa e de remorsos,
implorando o perdão e se julgando
indignos dele.
Está na hora de
mudarmos esses velhos conceitos. Está na hora de eliminarmos de nosso coração
aquele bichinho incômodo que é o sentimento de culpa. Está na hora de
entendermos que todas as nossas experiências, boas ou más, servem apenas de
meios de aprimoramento, e nossas quedas, ao invés de nos aborrecerem, devem ser
encaradas como oportunidades maravilhosas de progresso, de aprendizagem, de
evolução.
Jesus, o Mestre maior, nos ensinou o perdão. E
o perdão deve começar conosco mesmo. Devemos nos perdoar, assim como o princípio
do amor também é conosco mesmo. Só conseguiremos amar o semelhante se antes aprendermos a nos
amar.
E para nos amar, temos de nos perdoar. Nada de ficar remoendo culpas,
nada de nos encher de remorsos. Se erramos, aprendamos com nosso erro a nos corrigir, a não errar mais; tiremos de
nosso erro os aspectos positivos, pois eles servem para nos impulsionar na
senda do progresso.
É caindo que aprendemos a nos levantar. É cometendo erros
que encontramos meios de sacudir o espirito de sua inoperância e de achar
caminhos novos de progresso. O que devemos fazer é uma análise profunda e sem choramingas
de nossa atuação diante da vida, diante de nossos semelhantes, diante de Deus,
e, em encontrando falhas, o que é muito natural pois somos ainda todos espíritos inferiores em fase inicial
de progresso, procurar reparar tais falhas e erros com decisão e muito amor.
Espelhemo-nos nos
exemplos do Cristo e procuremos modificar nossa vida para melhor com um
trabalho sério, contínuo, efetivo, mantendo o coração aberto e livre de falsos sentimento
de culpa.
A ideia do pecado é
uma ideia superada. Pecado é o ato de todos aqueles que ainda não tiveram a
felicidade de encontrar o caminho maravilhoso traçado pelo Mestre. Mas pecado é
também o exercício do livre arbítrio nas experiências de aprendizado. O Pai de
amor e de bondade nos outorgou o direito de procurarmos seguir adiante com
nossas próprias pernas, e o fato da nossa inexperiência faz com que muitas vezes a gente erre, siga por
caminhos tortuosos, mas ‚ exatamente esse exercício do livre arbítrio que nos
faz progredir e avançar.
Deixemos, pois,
de lado a ideia de culpa e do pecado, e lembremo-nos sempre das palavras de
Pedro que nos diz que o amor cobre a multidão de pecados. Eis aí o segredo. O
amor cobre todos os pecados. Se partirmos com decisão para o amor, começando
por nos amar a nós mesmos, e amarmos com A maiúsculo a todos os nossos
semelhantes, ao mundo em que vivemos, a natureza, a beleza, as artes, aquilo
que é bom e belo, não teremos necessidade de ficar pelos cantos chorando as
nossas fraquezas e as nossas culpas.
SBC, 25/04/2007.
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