Ary Brasil Marques
Estamos vivendo dias de
tensão e de medo. Os homens estão se matando, se violentando, se agredindo
mutuamente.
A insegurança é parte
integrante da sociedade hodierna. E a população se divide praticamente em três
partes: a dos maus, enorme, atuante, fazendo o mal; a dos bons, pouquíssimos,
fazendo o bem; e finalmente a dos indiferentes, pessoas que se julgam bons, a
maioria da população, um bando de omissos, comodistas, egoístas. Reclamam que
tudo está mal, que a vida está cada vez pior, pregam o amor em suas casas
religiosas, acreditam que são injustiçados e que estão sempre com a verdade
(inclusive alguns se julgam mesmo os "donos" da verdade), mas ficam
apenas no amor teórico, não saindo de cima do muro. Não têm coragem de agir,
são omissos, praticam um evangelho de teoria, um amor à distância. Evitam se
contaminar pela maldade dos outros, julgando-se a si próprios como os eleitos,
os privilegiados, os bons.
Martin Luther King Júnior,
uma das pessoas que mais entenderam a mensagem do Cristo, dizia que os maiores
inimigos da liberdade e da fraternidade não eram as pessoas más, porque essas
agiam (certo ou errado) segundo suas concepções, mas eram atuantes e se
mostravam às claras e sim a grande maioria dos religiosos, grandes responsáveis
pelo estado de coisas em que vivemos pela sua inércia, pela sua omissão, por
não colocarem nunca em prática na vivência real os lindos ensinamentos que
buscavam nas igrejas.
Nós, espíritas, temos muita
responsabilidade. E ela é tanto maior porque temos a consciência exata disso,
mas a verdade é que temos nos esquecido das palavras do Mestre, quando disse
que muito será pedido a quem muito foi dado.
É hora de arregaçarmos
nossas mangas. Chega de comodismo! Chega de omissões! Tenhamos a coragem da fé,
aquela mesma coragem dos primitivos cristãos que não temiam nem a arena nem a
morte. Lutemos. Defendamos os direitos dos que sofrem. Sejamos atuantes em
tudo, na vida, na sociedade, na política, em todas as áreas. Coloquemos em
nosso peito a bandeira do evangelho do amor, e não temamos nada. Não nos
envergonhemos de nossa fé. Não deixemos a luz debaixo do alqueire, mas
levantemos o farol de nossos conhecimentos bem alto, sem temores, jamais nos
omitindo. Se assim não fizermos, certamente não teremos a coragem de encarar a
figura luminosa de nosso Mestre, que muito espera de cada um de nós.
27/08/90
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