Ary Brasil Marques
A mulher estava amedrontada.
Estava sem saída. Perseguida pelas ruelas da cidade, sua fisionomia mostrava
muita tensão e um grande pavor. Fora surpreendida em flagrante adultério, e
sabia que era costume em seu povo apedrejar as mulheres adúlteras até a morte.
Não queria morrer. Era jovem
ainda e tinha muitos planos para o futuro. Não se considerava uma pecadora.
Deixou-se levar pelo envolvimento com um homem. Não o fizera por lascívia nem
por falta de pudor. Aconteceu. E agora estava na iminência de morrer
apedrejada.
Os seus perseguidores eram
cruéis. Bradavam impropérios e a ameaçavam. Ofendiam-na com palavrões
indecorosos. Para eles, a única forma de fazer justiça a uma mulher adúltera
era a violência e a morte.
De repente, avistou Jesus. O
Mestre estava de cabeça baixa, escrevendo qualquer coisa com uma vareta na
areia da praia. Encheu-se de esperança. Havia uma saída para ela. Aquele homem
bom e justo, que transparecia bondade por todos os poros, certamente a
salvaria.
A turba se aproximou. Gritos
histéricos, ameaças, alguns já com pedras nas mãos, esperando o momento de
punir exemplarmente aquela mulher pecadora e imunda.
O Mestre levantou levemente
os olhos. Fixou nos presentes um olhar repleto de paz e de mansuetude. Depois
disse:- “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, que atire a primeira pedra.”
E continuou escrevendo na
areia, calmamente. Os homens que perseguiam a mulher pararam. Murmuraram entre
si. Um deixou para o outro, o outro para o seguinte.
Começaram a imaginar,
estarei eu em condições de atirar a primeira pedra? Como, se a minha
consciência me acusa? Quantas mentiras, quantas falsidades, quantas calúnias,
quantos estupros, quanto egoísmo, quanta corrupção! Deixa o meu colega do lado
iniciar a lapidação.
O colega também não
conseguiu fazer isso. Também ele estava repleto de pecados em seu caminho.
Passo a minha vez, disse ele.
Sucessivamente, todos os
acusadores foram soltando as pedras que traziam nas mãos e foram se afastando.
A mulher ficou sozinha na
frente de Jesus. Acontecera um milagre. Aquele homem, sem necessidade de dizer
mais nada, sem precisar altear a voz, envolveu a turba violenta com sua imensa
superioridade moral, e ninguém ousou ser o seu carrasco.
Jesus levantou os olhos e
falou:- “Onde estão os teus perseguidores? Ninguém te condenou? Eu também não
te condeno. Vai e não peques mais.”
Que lição maravilhosa! Lição
que serve para todos nós, nos dias atuais.
Quem de nós está isento do
pecado? Qual de nós tem capacidade de julgar e de condenar o nosso semelhante?
Todos somos aprendizes em
nossa vida. Os erros que cometemos voltam para nós movidos pela lei de causa e
efeito, trazendo-nos muitas vezes sofrimento e dor. A lei divina, perfeita, não
admite privilégios nem impunidade. Todos terão que pagar por aquilo que
fizeram.
Não somos juízes. Não temos
o gabarito moral para lançar pedras em nosso semelhante.
Não podemos atirar a
primeira pedra.
SBC, 29/06/2007.
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