domingo, 30 de março de 2014

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA


Ary Brasil Marques

A mulher estava amedrontada. Estava sem saída. Perseguida pelas ruelas da cidade, sua fisionomia mostrava muita tensão e um grande pavor. Fora surpreendida em flagrante adultério, e sabia que era costume em seu povo apedrejar as mulheres adúlteras até a morte.

Não queria morrer. Era jovem ainda e tinha muitos planos para o futuro. Não se considerava uma pecadora. Deixou-se levar pelo envolvimento com um homem. Não o fizera por lascívia nem por falta de pudor. Aconteceu. E agora estava na iminência de morrer apedrejada.

Os seus perseguidores eram cruéis. Bradavam impropérios e a ameaçavam. Ofendiam-na com palavrões indecorosos. Para eles, a única forma de fazer justiça a uma mulher adúltera era a violência e a morte.

De repente, avistou Jesus. O Mestre estava de cabeça baixa, escrevendo qualquer coisa com uma vareta na areia da praia. Encheu-se de esperança. Havia uma saída para ela. Aquele homem bom e justo, que transparecia bondade por todos os poros, certamente a salvaria.

A turba se aproximou. Gritos histéricos, ameaças, alguns já com pedras nas mãos, esperando o momento de punir exemplarmente aquela mulher pecadora e imunda.

O Mestre levantou levemente os olhos. Fixou nos presentes um olhar repleto de paz e de mansuetude. Depois disse:- “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, que atire a primeira pedra.”

E continuou escrevendo na areia, calmamente. Os homens que perseguiam a mulher pararam. Murmuraram entre si. Um deixou para o outro, o outro para o seguinte.

Começaram a imaginar, estarei eu em condições de atirar a primeira pedra? Como, se a minha consciência me acusa? Quantas mentiras, quantas falsidades, quantas calúnias, quantos estupros, quanto egoísmo, quanta corrupção! Deixa o meu colega do lado iniciar a lapidação.

O colega também não conseguiu fazer isso. Também ele estava repleto de pecados em seu caminho. Passo a minha vez, disse ele.

Sucessivamente, todos os acusadores foram soltando as pedras que traziam nas mãos e foram se afastando.

A mulher ficou sozinha na frente de Jesus. Acontecera um milagre. Aquele homem, sem necessidade de dizer mais nada, sem precisar altear a voz, envolveu a turba violenta com sua imensa superioridade moral, e ninguém ousou ser o seu carrasco.

Jesus levantou os olhos e falou:- “Onde estão os teus perseguidores? Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais.”

Que lição maravilhosa! Lição que serve para todos nós, nos dias atuais.

Quem de nós está isento do pecado? Qual de nós tem capacidade de julgar e de condenar o nosso semelhante?

Todos somos aprendizes em nossa vida. Os erros que cometemos voltam para nós movidos pela lei de causa e efeito, trazendo-nos muitas vezes sofrimento e dor. A lei divina, perfeita, não admite privilégios nem impunidade. Todos terão que pagar por aquilo que fizeram.

Não somos juízes. Não temos o gabarito moral para lançar pedras em nosso semelhante.

Não podemos atirar a primeira pedra.


SBC, 29/06/2007.

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