Ary Brasil Marques
Tudo na vida gira em torno
do número três. Analisando aquilo que nos cerca, percebemos que o número três
exerce uma influência muito grande em nossa vida.
O homem tem três grandes
fases em sua existência: criança, fase adulta e velhice. As religiões estão
repletas de assuntos trinos. Para muitas delas Deus é trino: Pai, Filho e
Espírito Santo.
A mitologia nos mostra
diversos deuses e heróis de natureza trina, bem como encontramos nos registros
da história muitos outros exemplos disso.
Analisaremos hoje a Doutrina
Espírita, considerando sua existência e influência em nossas vidas de três
fases distintas, todas elas muito importantes, cada uma à sua vez.
Vamos chamar a primeira fase de chamamento.
É a fase que os espíritos
vieram até nós para proclamar a imortalidade da alma. Com sua presença, eles
nos trouxeram a certeza da sobrevivência, a prova cabal de que somos espíritos
imortais, que a morte é apenas uma passagem de um plano a outro e ainda que os
espíritos podem se comunicar conosco.
Eles vieram. De todo lado.
Em todos os países.
Vieram e proclamaram bem
alto: - “Estamos vivos! A morte não
existe. Somos todos imortais!”
Nossos amigos, nossos
antepassados, nossos entes queridos, todos aqueles que já passaram o Portal da Vida e que agora se encontram no
Plano Espiritual, estão tão vivos quanto nós, e o que é mais importante, eles
podem se comunicar conosco. A fronteira invisível que separa os dois
mundos foi finalmente aberta,
comprovando de maneira cabal e absoluta aquilo que as religiões já suspeitavam
e que nos era ensinado de maneira tímida por elas: existe vida além da morte,
somos imortais.
E os casos de chamamento
foram se sucedendo. Muitas pessoas queridas, que julgávamos estarem mortos,
vieram até nós e deram o seu testemunho, abrindo para todos as cortinas de um
novo mundo, mundo de vida, mundo lindo, pleno de progresso e realizações. Que
coisa boa é poder se comunicar com o ente querido, matar as nossas saudades,
trocar impressões de amor e de carinho e, o que é mais confortador é a certeza
de que todos nós um dia estaremos juntos na caminhada ascendente que fazemos em
direção à felicidade, à plenitude, à Deus.
A maioria das famílias
recebeu a prova por meio de um parente, de um amigo, de alguém querido.
Comunicações de chamamento
aconteceram em vários lugares.
Minha família também recebeu
o seu chamamento. Meu avô materno, João Noronha Maciel, que não cheguei a
conhecer, se comunicou em Centro Espírita de São Paulo, doando seu carinho e
sua foto desenhada na hora por médium desconhecido, à minha tia Maria de
Lourdes Moreira e à minha avó Umbelina Serra Maciel, ambas comparecendo pela
primeira vez ao local e onde não conheciam nem uma só pessoa. Essas minhas duas
queridas parentes haviam chegado à Capital Paulista recentemente, e antes moravam
em pequena cidade de Minas Gerais, Guaranésia, e haviam ido ao referido centro
espírita em busca de um passe para aliviar os problemas de saúde de minha avó.
Tia Lourdes tinha verdadeiro pavor de Espiritismo, e só acedeu em levar sua mãe
diante dos rogos desta e por amor filial.
Ela não conhecia ninguém
ali. Tinha tomado conhecimento da existência daquele centro durante a tarde que
ela fizera compras no centro da cidade, e foi despertada pelo cartaz que
anunciava reunião de passes aquela mesma noite. Como vovó Umbelina pedia
insistentemente para irem a algum Centro Espírita tomar passe, como ela estava
acostumada quando morava conosco em Alfenas, e como os passes lhe faziam muito
bem, Tia Lourdes acabou por concordar em levá-la.
No centro mencionado, havia
um salão grande. Na frente, uma grande mesa, com cadeiras em toda a volta.
Depois uma plateia de cadeiras até o fundo, em duas fileiras.
Na mesa, as pessoas
participantes da reunião mediúnica. Um presidente e vários médiuns rodeavam a
mesa. Na plateia, os visitantes, os interessados na reunião, os assistidos e os
curiosos.
Tia Lourdes e Vovó Umbelina
se postaram na última fileira, bem atrás. Esperavam pacientemente a sua vez
para tomarem o passe.
De súbito, um médium é
incorporado. Ele pega de um lápis e de uma folha de papel e desenha com rapidez.
Em seguida, diz ao Presidente que o retrato que acabara de desenhar era para
ser entregue à sua filha, que se encontrava no recinto, para fortalecer a sua
fé. O presidente solicita do espírito o nome de sua filha, que ele disse se
chamar Maria de Lourdes. Alteando a voz e se dirigindo à assistência, chamou por
Dona Maria de Lourdes.
Minha tia tremia de medo, na
última fila. A princípio, julgou que o chamamento era dirigido a outra pessoa,
e ficou bem quietinha. Como ninguém se manifestasse, o Presidente se dirigiu ao
espírito que estava incorporado e o informou que não havia ninguém com o nome
de Maria de Lourdes entre os assistentes. O espírito insistiu, dizendo: -
“Minha filha se chama Maria de Lourdes Moreira e está sentada na última fila.”
Chamada de novo com energia, minha tia se levantou trêmula, cheia de pavor, e
foi até à mesa principal. Lá ela recebeu de presente uma fotografia feita à
mão, com uma dedicatória que dizia:
- “À minha filha Lourdes,
para que tenhas mais fé. Teu pai.”
A fotografia feita pelo
espírito é idêntica em todos os seus traços principais a uma outra fotografia de
meu avô, existente lá em casa.
Esse fato marcante foi o
chamamento para todos nós. Graças àquele momento extraordinário é que estou
hoje aqui, falando para vocês. Graças também àquele momento inesquecível, pude
tomar conhecimento de um caminho luminoso, imenso farol de luz a iluminar minha
vida e a vida das pessoas queridas com quem convivo.
De fato, o Espiritismo é
isso; Ele nos dá a certeza da imortalidade, nos mostra a justiça extraordinária
de nosso Criador, com a criação de um instrumento automático que nos impulsiona
para a frente e para o Alto que é a Lei de Ação ou Reação (ou Causa e Efeito);
nos descortina a beleza da pluralidade dos mundos e da pluralidade das vidas
sucessivas; nos traz a possibilidade da comunicação entre os espíritos de lá e
de cá; nos ensina de que todos alcançaremos a perfeição pela lei de evolução, e
que somos nós os artífices de nosso futuro; nos
coloca diante de um Deus infinitamente bom e justo, que jamais castiga,
fazendo com que possamos encarar a vida com alegria e encarar os problemas e
situações da existência como etapas de aprendizagem, passageiras, e que é
realmente um caminho suave e feliz de nossa trajetória como centelhas de luz,
filhos diletos do Senhor da Vida, todos destinados a um radioso porvir.
A segunda fase do
Espiritismo vamos denominar de aprendizagem.
Nessa fase as pessoas buscam
o exercício da mediunidade, a procura dos fenômenos, o conhecimento de nossas
origens e do nosso destino, o estudo, as práticas doutrinárias.
Kardec nos ensina que há
três classes de espíritas: a dos espíritas
experimentadores, a dos espíritas imperfeitos
e a dos espíritas cristãos, ou
verdadeiros espíritas.
Durante a aprendizagem, as
pessoas buscam o Espiritismo quase sempre para se beneficiar. Buscam consolos,
buscam orientações para si ou para pessoas amigas, buscam o bem estar próprio,
muitas vezes buscam soluções para seus problemas (alguns chegam ao cúmulo de
querer que os espíritos resolvam com um passe de mágica os seus problemas
materiais, esquecendo-se por completo que a própria Doutrina nos ensina de que
nós colhemos o que plantamos e que os problemas por que passamos são inerentes
ao nosso processo evolutivo).
Alguns se tornam fanáticos.
E não existe fanatismo mais prejudicial do que o fanatismo daqueles que se
julgam os donos exclusivos da verdade. O fanatismo religioso é extremamente
prejudicial, e o fanatismo de espíritas então é uma coisa insuportável.
Na fase de aprendizagem
muitas vezes se faz o bem. Mas ainda não se faz o bem pelo bem, sem qualquer
condição. O amor incondicional ainda está distante.
A terceira e última fase do
Espiritismo é a cristianização. É o momento supremo para todos nós.
Chegou nossa Estrada de
Damasco. Ficamos conhecendo verdadeiramente o Cristo, e nossa vida passa a ser
totalmente diferente.
Um dos ensinamentos mais
importantes da Codificação é aquele que nos diz que o espírito, em sua trajetória
evolutiva, passa por três fases distintas: a fase do instinto, a fase das
sensações e a fase dos sentimentos.
Na fase dos instintos, o espírito
ainda é rudimentar. Tudo ele faz obedecendo apenas aos seus instintos. Ele se
alimenta, se acasala, se protege contra as intempéries, se defende, tudo pelo
instinto.
Na fase de sensações, o
homem se compraz no uso de seus sentidos. É a fase do paladar, do olfato, do
tato, das sensações físicas, do prazer, do gozo.
O homem nessa fase adora as
coisas materiais, a posse, os prazeres da carne, as conquistas, o poder, o
luxo, os bens terrenos, as alegrias dos bacanais e das festas esplendorosas. É
o típico homem moderno, com suas conquistas tecnológicas maravilhosas, com sua
riqueza.
Ele a tudo quer conquistar.
Não lhe importa se essa conquista seja a custo de passar por cima de seu
semelhante, de destruir, de matar.
Quando encontra Jesus, tudo
muda. Os valores passam a ser os valores espirituais. O sentimento do amor
aflora e cresce no coração do homem.
Alicerçado nas lindas
verdades trazidas pelo Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, o espírita
tende a encontrar na terceira fase, a fase da cristianização, a Lei maior que
regula a vida no Universo, a Lei do Amor.
O amor modifica
completamente a nossa existência. Não há mais egoísmo. Nossa presença no centro
espírita já não tem a finalidade apenas de nos sentirmos bem, de nos cuidar de
nós e de nossos familiares; agora é mais importante o nosso semelhante.
Passamos a cultivar o amor a todos, indistintamente.
É Jesus que está chegando.
Ele está nos proporcionando forças para que façamos nossa reforma íntima, na
luta que temos para vencer nossas imperfeições, nossas limitações, nossas
fraquezas.
Muito mais do que isso,
Jesus está nos colocando no rol dos espíritas cristãos, ou seja, no rol dos
verdadeiros espíritas segundo a conceituação de nosso insigne codificador, e
abrindo nosso coração para a prática do amor ao próximo, para a preparação de
nossa querida Terra para galgar mais uma etapa evolutiva em sua trajetória,
alcançando um dia pelo esforço dos verdadeiros espíritas a condição de planeta
de regeneração.
É a fase do amor. É a fase
da alegria verdadeira. É a fase da natureza plena, do verde de novo em nosso
ambiente, da luz. É o fim da violência, da droga, da aids. É o momento da
implantação do reino de Deus em nosso planeta.
Jesus está nascendo para
nós. Hoje. Agora. Amemos e sejamos felizes. Que o Mestre de Amor nos abençoe.
15/10/96
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