Ary Brasil Marques
Antes de falarmos sobre o
tema que nos foi proposto, vamos fazer algumas considerações a respeito de
destino. Muita gente imagina que o destino das pessoas e das nações já está
determinado pela Providência Divina. Acreditam elas que tudo já está escrito, e
os árabes até têm uma palavra para isso: “maktub”.
Essa crença, a nosso ver, é
a negação de todo esforço individual de crescimento, bem como invalida
completamente o livre arbítrio, passando a pessoa a ser quase que um robô, um
autômato, um teleguiado.
O único destino que
realmente existe, e esse é irrevogável, é o destino de todos os seres humanos
de alcançar, um dia, após passarem pela fieira de reencarnações e atingirem,
pela lei de evolução, o estágio de perfeição, a plenitude, a felicidade plena,
o nirvana dos budistas ou o céu das religiões cristãs. Ninguém escapa desse
destino. A diferença entre cada um de nós a respeito do assunto é apenas o
tempo que levamos para atingir tal objetivo. Uns, mais aplicados, chegam mais depressa.
Todos, porém, absolutamente todos, chegarão lá um dia.
Outra questão que merece ser
abordada é o fato de que algumas pessoas julgam que Deus dá privilégios para
pessoas ou povos, chegando muitos a afirmar, com uma grande dose de ufanismo, que
Deus é brasileiro. Deus é brasileiro sim, mas é também argentino, russo,
americano, africano, asiático, alemão, japonês, hindu, chinês, português,
francês, inglês, australiano e tudo o mais que existe.
Existe na realidade um
planejamento global para o ser humano. Linhas gerais foram estabelecidas, e um
determinismo global, cujo planejamento não temos condição, pela nossa pequenez,
de modificar. Dentro desse planejamento, o homem recebe liberdade para agir e
para evoluir por suas próprias forças.
Podemos nos situar dentro de
um gigantesco túnel, muito largo e alto, enorme, extenso. É como se fosse um
enorme caixão, cobrindo uma área tão grande que não conseguimos imaginar o seu
tamanho. Dentro desse imenso túnel, dessa caixa enorme, o homem se movimenta, e
tem liberdade de andar para frente, para trás, para os lados, dar cambalhotas,
ficar de pernas para o ar, fazer o que quiser. Ele sabe, pela lei divina que
tem esculpida em sua consciência, que sua liberdade é relativa, e que ela não deve
atingir nem prejudicar o seu semelhante que caminha a seu lado no gigantesco
túnel. Porém, mesmo sabendo disso, o homem, mercê de seu egoísmo, utiliza a
liberdade que tem muitas vezes de maneira errada, prejudicando o semelhante, o
que ocasiona o acionamento da lei de causa e efeito que acaba por lhe trazer
sofrimentos e dificuldades. E o homem permanecerá avançando nesse túnel até
atingir o máximo nos dois planos principais de sua evolução, no campo do
conhecimento e no campo do sentimento. Quando chegar a esse estágio, terá alcançado
a perfeição relativa (pois a perfeição absoluta é propriedade apenas de nosso
Pai Celestial).
Pelo planejamento global,
foram fixadas áreas em nosso planeta com fins específicos na evolução. Alguns
pontos da Terra, por sua localização, pelo seu clima, pela natureza dos
espíritos ali encarnados e no sentido de ter polos de irradiação e de
orientação para os outros povos, receberam incumbências diversas. Assim é que
se determinou para o povo judeu, por estar na frente pela crença do Deus único,
recebeu a incumbência de nos trazer a primeira revelação. Da mesma forma o nascimento de Jesus foi
planejado para a pequena Nazaré.
A França, berço da cultura
de uma época, ficou incumbida de trazer para o Mundo o farol de luz gigantesco
que é o Espiritismo. Ao mesmo tempo, a França abrigou correntes materialistas,
e o homem, usando da liberdade que o Pai lhe concedeu, acabou por enfraquecer
essa luz tão necessária à evolução do homem terreno.
O mundo expandia suas
fronteiras. Coube a Portugal descobrir uma nova terra, dadivosa e boa, onde a
Natureza, exuberante, ainda virgem, era um lugar ideal para o plantio da árvore
do Evangelho e sua frutificação. Do Plano Espiritual irradiavam luzes de
profunda espiritualidade atingindo o novo mundo.
Um espírito, Hilel, que fora
contemporâneo e conterrâneo de Jesus, sábio e mestre em Israel e que chegara a
ser inclusive presidente do Sinédrio e que naquela época ensinava a universal
confraternização humana, juntamente com um grupo de espíritos altamente
elevados, escolheu o Brasil para abrigar um movimento imenso, que deveria
atingir a humanidade inteira, aproveitando as bases luminosas da Doutrina
codificada por Allan Kardec, e a força extraordinária do Evangelho de Jesus
Cristo, para dar continuidade ao trabalho iniciado na França e que se deixara
sufocar pelo materialismo.
O Brasil tinha todas as
condições de ser o coração do mundo, a pátria do Evangelho. Além de ser um país
onde não existem grandes cataclismos naturais, nem vulcões, ainda possui um
povo ordeiro, trabalhador, pacífico, e certamente, caso haja boa vontade e
trabalho por parte daqueles que receberam a dádiva de conhecer a Doutrina
Espírita, poderá se tornar um polo de irradiação do amor que cobrirá, um dia, a
humanidade inteira.
Humberto de Campos, pela
abençoada mediunidade de Francisco Cândido Xavier, nos relata com detalhes a
luminosa reunião ocorrida no Plano Espiritual, quando o próprio Mestre Jesus
incumbe a Helil a missão gloriosa de transplantar para o recanto planetário de
doces encantos a árvore do Evangelho de piedade e de amor. Disse o Mestre:
“aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos
habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de
muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre
as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o
pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a
fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil,
sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do
mundo!”
Encontramos no livro de
Humberto de Campos uma passagem muito importante. Diz-nos o autor espiritual
que certo dia, preparava-se, numa das esferas superiores do Plano Maior, o
encontro de Jesus com Ismael, um dos elevados mensageiros. Uma alegria
paradisíaca reinava em todas as almas que comemoravam o advento da Pátria do
Evangelho, quando se fez presente, na assembleia augusta, a figura
misericordiosa do Cordeiro.
Complacente sorriso lhe
bailava nos lábios angélicos e suas mãos liriais empunhavam largo estandarte
branco, como se um fragmento de sua alma radiosa estivesse ali dentro, transubstanciando
naquela bandeira de luz, que era o mais encantador dos símbolos de perdão e de
concórdia.
Dirigindo-se a um dos seus
elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da
multidão espiritual, sua voz ressoou com doçura:
“Ismael, manda o meu coração
que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra
do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara,
como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai. Reúne
as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de
minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento.
Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com
a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Ela será a doce paisagem
dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de
carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o
lema da tua coragem e do teu propósito de servir à causa de Deus e, sobretudo,
lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os
quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a
sagrada revivescência do Cristianismo.”
Monte Pascoal, 22 de abril
de 1500. Manhã de quarta-feira. Os integrantes da frota de Cabral avistam
bandos de aves, e à tarde do mesmo dia, terra era avistada: surgira ao longe um
monte, que foi chamado de “Monte Pascoal”. Pedro Álvares Cabral deu à nova terra
o nome de “Vera Cruz”. Chegando as naus à praia, acercaram-se índios nus, que
portavam arcos e flechas, não denotando, todavia, hostilidade. Navegando ao
longo da costa, uma vez que a praia não possuía ancoradouros, a esquadra
encontrou uma enseada a que foi dado o nome de Porto Seguro (hoje Cabrália),
local de águas tranquilas. A ancoragem se deu no sábado, dia 25 de abril. A
nova terra posteriormente recebeu o nome de Terra de Santa Cruz, e finalmente
de Brasil. Nascia assim para o mundo, há quase 500 anos, o maravilhoso país que
será, no futuro, tão mais próximo quanto maior for o nosso esforço, o coração
do mundo e a Pátria do Evangelho.
Muitos Espíritos de escol
reencarnaram na Pátria do Cruzeiro. Entre outros citarei apenas dois, que são
sem dúvida pertencentes ao elevado número de Espíritos de alta evolução e que
participaram como verdadeiros desbravadores, e plantaram a semente do amor em
milhares de criaturas.
Adolfo Bezerra de Menezes, o
médico dos pobres, que com seu trabalho fecundo e humilde tem levado a diversas
gerações o germe do amor ao coração dos mais infelizes, socorrendo os
necessitados e iluminando os caminhos de todos nós. Seu trabalho na Terra já
foi totalmente concluído, mas o bom amigo preferiu ficar entre nós, ajudando
seus irmãos do globo terreno, a subir para escalas maiores no caminho da
evolução. Seu pedido de aqui continuar teve a aprovação de nossa querida mãe
Maria e de Celina, Espírito de elevada hierarquia.
Francisco Cândido Xavier
nasceu também no mês de abril, assim como o Brasil. Seu trabalho missionário se
desenvolve há mais de 70 anos, trazendo com sua mediunidade luminosa um número
impressionante de livros, mensagens, comunicações, ensinamentos, e
principalmente, exemplos de humildade e de trabalho, mostrando-nos que podemos,
se trabalharmos bem e com vontade, transformar o quadro atual de pessimismo
existente em nosso país, naquele novo mundo, lindo, fraterno, a irradiar amor e
Evangelho para a humanidade toda.
Jesus, o diretor espiritual
de nosso Planeta, está conosco. Ele espera muito de nós. Ele confia no Brasil e
nos brasileiros. Não há razão para que nós não confiemos em nós próprios.
Lembremo-nos de que somos luz, que temos a bendita oportunidade de viver em um
país livre, onde, como dizia Pero Vaz Caminha, “em se plantando, tudo dá.”
Um velho carpinteiro estava
para se aposentar. Contou a seu chefe os planos de largar o serviço de
carpintaria e de construção de casas para viver uma vida mais calma com sua
família. Claro que sentiria falta do pagamento mensal, mas necessitava da
aposentadoria.
O dono da empresa sentiu em
saber que perderia um de seus melhores empregados e pediu a ele que construísse
uma última casa como um favor especial.
O carpinteiro consentiu,
mas, com o tempo, era fácil ver que seus pensamentos e seu coração não estavam
no trabalho. Ele não se empenhou no serviço e utilizou mão de obra e matérias
primas de qualidade inferior.
Foi uma maneira lamentável
de encerrar sua carreira.
Quando o carpinteiro
terminou o trabalho, o construtor veio inspecionar a casa e entregou a chave da
porta ao carpinteiro:
“Esta é a sua casa”, ele
disse, “meu presente para você.”
Que choque! Que vergonha! Se
ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito completamente
diferente, não teria sido tão relaxado. Agora iria morar numa casa feita de
qualquer maneira. Assim acontece conosco. Construímos nossas vidas de maneira
distraída, reagindo mais que agindo, desejando colocar menos do que o melhor.
Nos assuntos importantes não empenhamos nosso melhor esforço. Então, em choque,
olhamos para a situação que criamos e vemos que estamos morando na casa que
construímos. Se soubéssemos disso, teríamos feito diferente. Pense em você como
o carpinteiro. Pense sobre sua casa. Cada dia você martela um prego novo,
coloca uma armação ou levanta uma parede. Construa sabiamente. É a única vida
que você construirá. Mesmo que tenha somente mais um dia de vida, esse dia
merece ser vivido graciosamente e com dignidade. Na placa na parede está
escrito:
“A
vida é um projeto de faça você mesmo.”
Quem poderia dizer isso mais
claramente?
Sua vida de hoje é o
resultado de suas atitudes e escolhas feitas no passado.
Sua vida de amanhã será o
resultado das atitudes e escolhas que fizer hoje.”
A construção do Brasil do
futuro depende de nós. Um dia seremos chamados a prestar contas do tempo que
nos foi confiado, a prestar contas da missão que aceitamos de levar ao nosso
planeta os frutos da frondosa árvore do Evangelho plantada pelo Mestre Jesus em
nossa terra. Todos somos responsáveis por essa missão. Façamos o melhor
possível, a partir de agora, para que possamos ter, no Terceiro Milênio que se
aproxima, um mundo melhor, liderado pela grande nação brasileira e alicerçado
no amor.
Para isso, temos que lutar
com todas as nossas forças contra o modelo injusto de vida que implantamos,
baseado no egoísmo e na permanência do homem no estágio das sensações, e
buscarmos alcançar um novo estágio em nossas vidas, o estágio do sentimento.
No livro “Pensamento e
Vida”, Emmanuel nos esclarece:
“Já se disse que duas asas conduzirão o
espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria.
Através do amor valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria somos pela
vida valorizados. Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a
bondade.”
Companheiros queridos, somos
os construtores de nosso futuro. Festejemos os 500 anos do Brasil nos
esforçando, cada um, a dar o melhor de si para que a missão gloriosa do Brasil
se concretize, evitando assim que o Plano Espiritual incumba a outros a
realização daquilo que é parte integrante do planejamento global e que tem que
ser feito, por nós ou por outro povo qualquer que faça aquilo que não fizemos.
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