domingo, 30 de março de 2014

BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA DO EVANGELHO


Ary Brasil Marques

Antes de falarmos sobre o tema que nos foi proposto, vamos fazer algumas considerações a respeito de destino. Muita gente imagina que o destino das pessoas e das nações já está determinado pela Providência Divina. Acreditam elas que tudo já está escrito, e os árabes até têm uma palavra para isso: “maktub”.

Essa crença, a nosso ver, é a negação de todo esforço individual de crescimento, bem como invalida completamente o livre arbítrio, passando a pessoa a ser quase que um robô, um autômato, um teleguiado.

O único destino que realmente existe, e esse é irrevogável, é o destino de todos os seres humanos de alcançar, um dia, após passarem pela fieira de reencarnações e atingirem, pela lei de evolução, o estágio de perfeição, a plenitude, a felicidade plena, o nirvana dos budistas ou o céu das religiões cristãs. Ninguém escapa desse destino. A diferença entre cada um de nós a respeito do assunto é apenas o tempo que levamos para atingir tal objetivo. Uns, mais aplicados, chegam mais depressa. Todos, porém, absolutamente todos, chegarão lá um dia.

Outra questão que merece ser abordada é o fato de que algumas pessoas julgam que Deus dá privilégios para pessoas ou povos, chegando muitos a afirmar, com uma grande dose de ufanismo, que Deus é brasileiro. Deus é brasileiro sim, mas é também argentino, russo, americano, africano, asiático, alemão, japonês, hindu, chinês, português, francês, inglês, australiano e tudo o mais que existe.

Existe na realidade um planejamento global para o ser humano. Linhas gerais foram estabelecidas, e um determinismo global, cujo planejamento não temos condição, pela nossa pequenez, de modificar. Dentro desse planejamento, o homem recebe liberdade para agir e para evoluir por suas próprias forças.

Podemos nos situar dentro de um gigantesco túnel, muito largo e alto, enorme, extenso. É como se fosse um enorme caixão, cobrindo uma área tão grande que não conseguimos imaginar o seu tamanho. Dentro desse imenso túnel, dessa caixa enorme, o homem se movimenta, e tem liberdade de andar para frente, para trás, para os lados, dar cambalhotas, ficar de pernas para o ar, fazer o que quiser. Ele sabe, pela lei divina que tem esculpida em sua consciência, que sua liberdade é relativa, e que ela não deve atingir nem prejudicar o seu semelhante que caminha a seu lado no gigantesco túnel. Porém, mesmo sabendo disso, o homem, mercê de seu egoísmo, utiliza a liberdade que tem muitas vezes de maneira errada, prejudicando o semelhante, o que ocasiona o acionamento da lei de causa e efeito que acaba por lhe trazer sofrimentos e dificuldades. E o homem permanecerá avançando nesse túnel até atingir o máximo nos dois planos principais de sua evolução, no campo do conhecimento e no campo do sentimento. Quando chegar a esse estágio, terá alcançado a perfeição relativa (pois a perfeição absoluta é propriedade apenas de nosso Pai Celestial).

Pelo planejamento global, foram fixadas áreas em nosso planeta com fins específicos na evolução. Alguns pontos da Terra, por sua localização, pelo seu clima, pela natureza dos espíritos ali encarnados e no sentido de ter polos de irradiação e de orientação para os outros povos, receberam incumbências diversas. Assim é que se determinou para o povo judeu, por estar na frente pela crença do Deus único, recebeu a incumbência de nos trazer a primeira revelação.  Da mesma forma o nascimento de Jesus foi planejado para a pequena Nazaré.

A França, berço da cultura de uma época, ficou incumbida de trazer para o Mundo o farol de luz gigantesco que é o Espiritismo. Ao mesmo tempo, a França abrigou correntes materialistas, e o homem, usando da liberdade que o Pai lhe concedeu, acabou por enfraquecer essa luz tão necessária à evolução do homem terreno.

O mundo expandia suas fronteiras. Coube a Portugal descobrir uma nova terra, dadivosa e boa, onde a Natureza, exuberante, ainda virgem, era um lugar ideal para o plantio da árvore do Evangelho e sua frutificação. Do Plano Espiritual irradiavam luzes de profunda espiritualidade atingindo o novo mundo.

Um espírito, Hilel, que fora contemporâneo e conterrâneo de Jesus, sábio e mestre em Israel e que chegara a ser inclusive presidente do Sinédrio e que naquela época ensinava a universal confraternização humana, juntamente com um grupo de espíritos altamente elevados, escolheu o Brasil para abrigar um movimento imenso, que deveria atingir a humanidade inteira, aproveitando as bases luminosas da Doutrina codificada por Allan Kardec, e a força extraordinária do Evangelho de Jesus Cristo, para dar continuidade ao trabalho iniciado na França e que se deixara sufocar pelo materialismo.

O Brasil tinha todas as condições de ser o coração do mundo, a pátria do Evangelho. Além de ser um país onde não existem grandes cataclismos naturais, nem vulcões, ainda possui um povo ordeiro, trabalhador, pacífico, e certamente, caso haja boa vontade e trabalho por parte daqueles que receberam a dádiva de conhecer a Doutrina Espírita, poderá se tornar um polo de irradiação do amor que cobrirá, um dia, a humanidade inteira.

Humberto de Campos, pela abençoada mediunidade de Francisco Cândido Xavier, nos relata com detalhes a luminosa reunião ocorrida no Plano Espiritual, quando o próprio Mestre Jesus incumbe a Helil a missão gloriosa de transplantar para o recanto planetário de doces encantos a árvore do Evangelho de piedade e de amor. Disse o Mestre: “aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!”

Encontramos no livro de Humberto de Campos uma passagem muito importante. Diz-nos o autor espiritual que certo dia, preparava-se, numa das esferas superiores do Plano Maior, o encontro de Jesus com Ismael, um dos elevados mensageiros. Uma alegria paradisíaca reinava em todas as almas que comemoravam o advento da Pátria do Evangelho, quando se fez presente, na assembleia augusta, a figura misericordiosa do Cordeiro.

Complacente sorriso lhe bailava nos lábios angélicos e suas mãos liriais empunhavam largo estandarte branco, como se um fragmento de sua alma radiosa estivesse ali dentro, transubstanciando naquela bandeira de luz, que era o mais encantador dos símbolos de perdão e de concórdia.

Dirigindo-se a um dos seus elevados mensageiros na face do orbe terrestre, em meio do divino silêncio da multidão espiritual, sua voz ressoou com doçura:         

“Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do Nosso Pai. Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo. Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo.”

Monte Pascoal, 22 de abril de 1500. Manhã de quarta-feira. Os integrantes da frota de Cabral avistam bandos de aves, e à tarde do mesmo dia, terra era avistada: surgira ao longe um monte, que foi chamado de “Monte Pascoal”. Pedro Álvares Cabral deu à nova terra o nome de “Vera Cruz”. Chegando as naus à praia, acercaram-se índios nus, que portavam arcos e flechas, não denotando, todavia, hostilidade. Navegando ao longo da costa, uma vez que a praia não possuía ancoradouros, a esquadra encontrou uma enseada a que foi dado o nome de Porto Seguro (hoje Cabrália), local de águas tranquilas. A ancoragem se deu no sábado, dia 25 de abril. A nova terra posteriormente recebeu o nome de Terra de Santa Cruz, e finalmente de Brasil. Nascia assim para o mundo, há quase 500 anos, o maravilhoso país que será, no futuro, tão mais próximo quanto maior for o nosso esforço, o coração do mundo e a Pátria do Evangelho.

Muitos Espíritos de escol reencarnaram na Pátria do Cruzeiro. Entre outros citarei apenas dois, que são sem dúvida pertencentes ao elevado número de Espíritos de alta evolução e que participaram como verdadeiros desbravadores, e plantaram a semente do amor em milhares de criaturas.

Adolfo Bezerra de Menezes, o médico dos pobres, que com seu trabalho fecundo e humilde tem levado a diversas gerações o germe do amor ao coração dos mais infelizes, socorrendo os necessitados e iluminando os caminhos de todos nós. Seu trabalho na Terra já foi totalmente concluído, mas o bom amigo preferiu ficar entre nós, ajudando seus irmãos do globo terreno, a subir para escalas maiores no caminho da evolução. Seu pedido de aqui continuar teve a aprovação de nossa querida mãe Maria e de Celina, Espírito de elevada hierarquia.

Francisco Cândido Xavier nasceu também no mês de abril, assim como o Brasil. Seu trabalho missionário se desenvolve há mais de 70 anos, trazendo com sua mediunidade luminosa um número impressionante de livros, mensagens, comunicações, ensinamentos, e principalmente, exemplos de humildade e de trabalho, mostrando-nos que podemos, se trabalharmos bem e com vontade, transformar o quadro atual de pessimismo existente em nosso país, naquele novo mundo, lindo, fraterno, a irradiar amor e Evangelho para a humanidade toda.

Jesus, o diretor espiritual de nosso Planeta, está conosco. Ele espera muito de nós. Ele confia no Brasil e nos brasileiros. Não há razão para que nós não confiemos em nós próprios. Lembremo-nos de que somos luz, que temos a bendita oportunidade de viver em um país livre, onde, como dizia Pero Vaz Caminha, “em se plantando, tudo dá.”

Um velho carpinteiro estava para se aposentar. Contou a seu chefe os planos de largar o serviço de carpintaria e de construção de casas para viver uma vida mais calma com sua família. Claro que sentiria falta do pagamento mensal, mas necessitava da aposentadoria.

O dono da empresa sentiu em saber que perderia um de seus melhores empregados e pediu a ele que construísse uma última casa como um favor especial.

O carpinteiro consentiu, mas, com o tempo, era fácil ver que seus pensamentos e seu coração não estavam no trabalho. Ele não se empenhou no serviço e utilizou mão de obra e matérias primas de qualidade inferior.

Foi uma maneira lamentável de encerrar sua carreira.

Quando o carpinteiro terminou o trabalho, o construtor veio inspecionar a casa e entregou a chave da porta ao carpinteiro:

“Esta é a sua casa”, ele disse, “meu presente para você.”

Que choque! Que vergonha! Se ele soubesse que estava construindo sua própria casa, teria feito completamente diferente, não teria sido tão relaxado. Agora iria morar numa casa feita de qualquer maneira. Assim acontece conosco. Construímos nossas vidas de maneira distraída, reagindo mais que agindo, desejando colocar menos do que o melhor. Nos assuntos importantes não empenhamos nosso melhor esforço. Então, em choque, olhamos para a situação que criamos e vemos que estamos morando na casa que construímos. Se soubéssemos disso, teríamos feito diferente. Pense em você como o carpinteiro. Pense sobre sua casa. Cada dia você martela um prego novo, coloca uma armação ou levanta uma parede. Construa sabiamente. É a única vida que você construirá. Mesmo que tenha somente mais um dia de vida, esse dia merece ser vivido graciosamente e com dignidade. Na placa na parede está escrito:

“A vida é um projeto de faça você mesmo.”
       
Quem poderia dizer isso mais claramente?

Sua vida de hoje é o resultado de suas atitudes e escolhas feitas no passado.

Sua vida de amanhã será o resultado das atitudes e escolhas que fizer hoje.”

A construção do Brasil do futuro depende de nós. Um dia seremos chamados a prestar contas do tempo que nos foi confiado, a prestar contas da missão que aceitamos de levar ao nosso planeta os frutos da frondosa árvore do Evangelho plantada pelo Mestre Jesus em nossa terra. Todos somos responsáveis por essa missão. Façamos o melhor possível, a partir de agora, para que possamos ter, no Terceiro Milênio que se aproxima, um mundo melhor, liderado pela grande nação brasileira e alicerçado no amor.

Para isso, temos que lutar com todas as nossas forças contra o modelo injusto de vida que implantamos, baseado no egoísmo e na permanência do homem no estágio das sensações, e buscarmos alcançar um novo estágio em nossas vidas, o estágio do sentimento.

No livro “Pensamento e Vida”, Emmanuel nos esclarece:
 “Já se disse que duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria. Através do amor valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria somos pela vida valorizados. Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade.”


Companheiros queridos, somos os construtores de nosso futuro. Festejemos os 500 anos do Brasil nos esforçando, cada um, a dar o melhor de si para que a missão gloriosa do Brasil se concretize, evitando assim que o Plano Espiritual incumba a outros a realização daquilo que é parte integrante do planejamento global e que tem que ser feito, por nós ou por outro povo qualquer que faça aquilo que não fizemos.

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