Ary Brasil Marques
Muito se tem falado sobre a
riqueza e a pobreza. Geralmente, ambas são tidas como provas muito difíceis. O
interessante é que, mesmo sabendo disso, a maioria das criaturas busca com
sofreguidão a primeira dessas provas, forçando mesmo a obtenção de riquezas por
meio de jogos, loterias, concursos e alguns empregando até meios ilícitos nos
negócios e nas relações com seus semelhantes.
Na ânsia de enriquecer, vale
tudo, e a lei do Gerson passa a ser considerada como prova de competência e não
de desonestidade.
Em minha opinião, tanto a
riqueza como a pobreza são uma prova de desequilíbrio do organismo social.
Creio que um dia, quando a nossa Terra alcançar um estágio mais evoluído, não
haverá nem grandes fortunas e muito menos a miséria que dói em nossos corações.
Comparemos o organismo
social com o organismo físico das pessoas. O nosso corpo humano, quando
equilibrado, não possui nenhum órgão ou departamento privilegiado, mais rico ou
melhor que os demais. Todos se entrelaçam e funcionam de maneira harmônica e
cooperativa. O coração, que seria o órgão mais rico, não trabalha egoisticamente
só para si, e procura alimentar com seu trabalho de purificação do sangue a
todos os membros do organismo, que por sua vez recebem o líquido da vida
através dos meios próprios de comunicação, que são as veias, artérias e vasos.
E todos eles trabalham, cumprindo cada qual sua função específica em benefício
do conjunto. Não há órgãos pobres, como não há órgãos ricos. Todos são igualmente
importantes para o conjunto. Não há paternalismo, nenhum órgão recebe seu
quinhão se não executa a tarefa que lhe foi confiada. Quando o organismo se
desequilibra, e isso acontece pelos mais diferentes motivos, desde a
alimentação como o tipo de vida que o indivíduo tem, a riqueza (neste caso o
sangue) se concentra em determinada área, formando tromboses e danificando o
corpo. E pela lei universal de harmonia, quando há riqueza em demasia numa
região, consequentemente há pobreza em outra.
Na vida acontece o mesmo.
Sempre que alguém tem demais, outro alguém tem de menos. E vem o desequilíbrio.
O ideal é o equilíbrio dos membros de uma comunidade, sem excessos de lado a
lado.
Como porém a Terra é um
planeta de expiação e de provas, e tem uma população residente heterogênea e de
diferentes graus evolutivos, nosso planeta não tem ainda a condição vibratória
ideal para viver em equilíbrio, daí porque, no momento e possivelmente ainda
por muito tempo, não ser possível atingir a igualdade de condições entre seus
habitantes.
Assim sendo, o que o
comunismo prega, por exemplo, é utopia se for considerado no tempo e no espaço
do mundo de hoje. Esse ideal, no entanto, será atingido um dia. Para alcançá-lo
é necessário a implantação do Evangelho do Amor nos corações de cada um de nós,
o que possibilitará que façamos o plantio de um mundo melhor.
Essa planta deverá ser
regada diariamente com doses maciças de amor e de fraternidade, e ela crescerá
e se tornará grande e real, e um dia então abrangerá a Terra inteira.
Enquanto isso não acontece,
cabe àqueles que forem aquinhoados com o talento da riqueza, promover uma
melhor circulação dessa riqueza, proporcionando empregos, criando oportunidades
para todos, não permitindo que o egoísmo crie compartimentos estanques de riqueza
parada e mal aproveitada, sob pena de uma trombose no organismo social, como já
está ocorrendo.
Não se deve partir para o
paternalismo, mas também não é justo que se negue um mínimo de oportunidade de
uma vida decente para aqueles nossos irmãos menos afortunados, dando a cada um
o direito de utilizar seu livre arbítrio e seu trabalho para fazer sua parte no
organismo social e assim mais rapidamente sair do estágio de ignorância e de
miséria para que o mundo em que vivemos seja menos sombrio, menos violento,
menos corrupto.
24/08/90
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