Ary Brasil Marques
Adamastor estava completando
103 anos de idade, mas continuava em plena forma. Fora contemplado com um dos
milagres da ciência, que a partir do ano 2200 conseguiu vencer o problema da
velhice. Sua aparência e condição física eram de um jovem de 40 anos. Estávamos
no ano de 2307.
Adamastor era apaixonado
pela cidade de São Paulo. Gostava de apreciar as belas avenidas e parques de
sua Sampa, com suas flores e belos jardins. Amava ver os modernos edifícios
belos e funcionais. Orgulhava-se de não existir mais em sua cidade nem
vestígios das antigas favelas e cortiços.
O Brasil se tornara o país
mais adiantado do mundo, e exportava tecnologia avançada para os seus coirmãos.
Todos os povos do planeta gozavam de muito progresso e de paz. A guerra entre
os povos na Terra era coisa do passado.
As ruas da cidade, outrora
cheias de automóveis e de outros veículos, hoje eram totalmente livres. O
transporte agora era feito de maneira muito rápida, instantânea. Quem quisesse,
por exemplo, ir para a praia de Copacabana no Rio de Janeiro, bastava se
concentrar por alguns instantes. No mesmo instante a pessoa se desmaterializava
e se materializava no local de seu destino.
Coisa de louco.
Adamastor gostava de
assistir televisão. A televisão, agora com imagem perfeita e sem interferência,
podia ser assistida em qualquer lugar sem necessidade de aparelhos receptores.
Bastava uma tela branca, ou mesmo uma parede, onde o interessado, depois de
sintonizar o seu pensamento com o programa que queria assistir, plasmava a
imagem nessa tela.
Um luxo.
Aquele dia era um dia
especial. Seu time, o São Paulo, iria receber no Morumbi a equipe do Atlas, de
Júpiter. Os dois times chegaram à final do Primeiro Campeonato da Galáxia, e o
vencedor da partida seria o campeão.
O Estádio do Morumbi fora
totalmente reconstruído e era agora o mais moderno do planeta. Tinha uma imensa
cúpula de vidro que o cobria por inteiro, e nem a chuva nem o vento interferiam
no público e nos jogadores. Possuía 100.000 cabines individuais, numeradas,
todas com muito conforto e visão do gramado.
Adamastor já tinha o seu
ingresso. Por certo às 16 horas, no ponta pé inicial, estaria lá. Faria o seu
tele transporte cinco minutos antes, pois não gostava de esperar.
Na hora certa, Adamastor
estava em sua cabine, vestido com o uniforme de seu clube favorito.
O jogo foi muito difícil. Os
dois times possuíam as melhores defesas da Galáxia, e por melhores que fossem
os ataques o gol não saia. Os dois goleiros, excelentes, praticaram defesas
maravilhosas, e o público viu talvez, mesmo sem a alegria do gol, a melhor
partida dos últimos tempos.
Faltavam cinco minutos para
o final. O São Paulo atacava com seu grande atleta Pelé oitavo. Na entrada da
área, Pelé oitavo foi derrubado. Falta.
Roberto Ceni, goleiro do São
Paulo e descendente de uma família de goleiros artilheiros, se prontificou a
bater a falta. Feita a barreira, compacta, Roberto Ceni caminhou firme para a
bola e chutou. Foi um pombo sem asa. Certeiro. No canto. No local onde a coruja
faz seu ninho.
Gol! Gol do São Paulo! A
multidão delirava. Poucos minutos depois o jogo terminava. São Paulo, Campeão
da Galáxia! Milhares de pessoas, de pé, agitando bandeiras, gritavam o nome do
novo campeão de toda a nossa galáxia.
Nesse instante, Adamastor
acordou.
SBC, 07/11/2007.
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